Caso Amarildo
Amarildo Dias de Souza (Rio de Janeiro, 1965/1966 - Rio de Janeiro, 2013) foi um ajudante de pedreiro e brasileiro que ficou conhecido nacionalmente por conta de seu desaparecimento, desde o dia 14 de julho de 2013, após ter sido detido por policiais militares e conduzido da porta de sua casa, na Favela da Rocinha, em direção a sede da Unidade de Polícia Pacificadora do bairro. Seu desaparecimento tornou-se símbolo de casos de abuso de autoridade e violência policial.[1] Os principais suspeitos no desaparecimento de Amarildo eram da própria polícia.[2][3][4] Em 2016, 12 dos 25 policiais militares denunciados pelo desaparecimento e morte de Amarildo foram condenados em primeiro grau,[5] e no segundo grau, oito condenações foram mantidas, enquanto quatro foram absolvidos.[6]
Biografia
Morador desde que nasceu da favela na Rocinha, na zona norte do Rio de Janeiro, Amarildo era o sétimo de 12 irmãos e filho de uma empregada doméstica e de um pescador.[7][8] Analfabeto, só escrevia o próprio nome e começou a trabalhar aos 12 anos vendendo limão.[9] Casado com a dona de casa Elizabeth Gomes da Silva, Amarildo era pai de Romeu, e dividia um barraco de um único cômodo com toda a família.[7] Conhecido como "Boi", trabalhava como pedreiro e fazia bicos na comunidade.[1][9][10][11]
Desaparecimento
Entre os dias 13 e 14 de julho de 2013, uma operação batizada de Paz Armada mobilizou 300 policiais na Rocinha e prendeu suspeitos sem passagem pela polícia, logo depois de um arrastão ocorrido nas proximidades da favela, e de acordo com a polícia, 30 pessoas foram presas, entre elas Amarildo.[7][8] Ele havia acabado de voltar de uma pescaria e foi detido e conduzido por policiais militares da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da Rocinha na noite do dia 14.[7][12] Liberado após poucos minutos na delegacia após concluída a averiguação na UPP da Rocinha, desde então não se conhece o paradeiro do pedreiro. Dois dias depois, a família registrou o seu desaparecimento.[9]
Investigação
Segundo a versão da polícia, os PMs teriam confundido Amarildo com um traficante de drogas com mandado de prisão expedido pela Justiça.[10] A própria polícia da comunidade é suspeita do desaparecimento de Amarildo.[2][3]
Na noite em que foi detido, duas câmeras diante da UPP tiveram problemas e o GPS dos carros de polícia estavam desligados.[13][14] Responsável pelas duas câmeras da UPP, a Emive constatou que elas estavam queimadas e alegou que falhas são frequentes em redes elétricas instáveis. No entanto, das 84 câmeras na Rocinha, apenas as da UPP apresentaram problemas naquela noite.[15]
A polícia civil foi informada de que um corpo tinha sido encontrado na comunidade da Rocinha e os agentes foram procurá-lo, mas constataram que não era de Amarildo.[16]
Em uma Auditoria Militar para investigar o caso, foi confirmado que o ex-comandante da UPP da Rocinha, major Edson Santos, subornou uma moradora da comunidade, Lucia Helena da Silva Batista, para que a mesma mentisse em testemunho sobre o Caso Amarildo. Lucia, em sua primeira versão, incriminava o traficante Thiago da Silva Neris como autor do assassinato de Amarildo. Depois de voltar atrás em seu depoimento, Lucia disse ter sido orientada pelo major a dar falsas informações por temer represálias de policiais militares contra seu filho além de ter recebido um pagamento.[17]
Em 2016, 12 dos 25 policiais militares denunciados pelo desaparecimento e morte de Amarildo foram condenados em primeiro grau.[18] Em 2019, a 8ª Câmara Criminal da Justiça do Rio de Janeiro absolveu quatro dos 12 policiais acusados, enquanto a condenação dos oito restantes foi mantida.[6]
Repercussão
O caso de Amarildo virou um símbolo de desaparecimentos não esclarecidos pela polícia.[1] A campanha “Onde está o Amarildo?” foi iniciada nas redes sociais, especialmente pelo Facebook, com o apoio de movimentos como o Rio de Paz, as Mães de Maio e da Rede de Comunidades e Movimentos contra a Violência.[19] Foram organizados atos por moradores da Rocinha, contando com a participação da sociedade civil.[20][21][22] A repercussão aumentou, artistas como MV Bill,[19] Wagner Moura[23] e Caetano Veloso[24] manifestaram-se publicamente, assim como a Comissão da Verdade fluminense[25] O desaparecimento também passou a ser conhecido internacionalmente,[26] desde a Anistia Internacional[27] ao Financial Times[28]
O governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral recebeu a família de Amarildo e prometeu “mobilizar todo o governo” para encontrá-lo.[29]
- ↑ a b c Sumiço de Amarildo no Rio vira símbolo de casos não esclarecidos - uma Hora, 03 de agosto de 2013 Erro de citação: Código
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inválido; o nome "ZEROHORA/03-08-13" é definido mais de uma vez com conteúdos diferentes - ↑ a b Ministra considera policiais principais suspeitos por desaparecimento de Amarildo - O Estado de S.Paulo, 02 de agosto de 2013
- ↑ a b Desafio de UPPs é garantir que policiais respeitem direitos humanos, diz conselheiro - Agência Brasil, 08 de agosto de 2013
- ↑ Em escutas captadas, suspeito diz que Amarildo foi morto pelo tráfico da Rocinha para "manchar" UPP - R7, 10 de agosto de 2013
- ↑ [1]
- ↑ a b «Justiça absolve policiais acusados de tortura e morte de Amarildo». Agência Brasil. 17 de março de 2019
- ↑ a b c d A Rocinha quer saber: onde está Amarildo? - O Globo, 24 de julho de 2013
- ↑ a b Amarildo Presente - Agência Pública, 29 de julho de 2013
- ↑ a b c Família de Amarildo diz acreditar que pedreiro já está morto - Folha de S.Paulo, 02 de agosto de 2013
- ↑ a b Jorge Antonio Barros: Onde está Amarildo? Junte-se a nós em busca da resposta - Blog Repórter do Crime, 20 de julho de 2013
- ↑ William de Oliveira: Hoje a Rocinha grita Cadê o Amarildo?? - Viva Favela, 23 de julho de 2013
- ↑ Delegado faz reconstituição dos últimos passos de Amarildo - O Globo, 06 de agosto de 2013
- ↑ GPS de carro que transportou Amarildo estava desligado, diz Polícia Civil - Agência Brasil, 08 de agosto de 2013
- ↑ Polícia tenta localizar corpo na Rocinha que pode ser de Amarildo - G1, 07 de agosto de 2013
- ↑ Eliane Brum:Onde está Amarildo? - Época, 05 de agosto de 2013
- ↑ Suposto corpo de Amarildo não é encontrado e polícia encerra buscas - Correio Braziliense, 07 de agosto de 2013
- ↑ «Suborno no Caso Amarildo é confirmado pela Justiça Militar». Consultado em 3 de maio de 2015
- ↑ [2]
- ↑ a b Campanha “Onde está o Amarildo?” Contra a violência policial nas favelas - GlobalVoices, 26 de julho de 2013
- ↑ Pedreiro aparece em carro da UPP - Meia Hora, 22 de julho de 2013
- ↑ RJ: moradores da Rocinha protestam contra desaparecimento de pedreiro - Bom Dia Brasil (G1), 02 de agosto de 2013
- ↑ Ato por Amarildo, desaparecido na Rocinha, reúne parentes e artistas - G1, 11 de agosto de 2013
- ↑ Wagner Moura cobra esclarecimentos sobre Amarildo de Souza - UOL Cinema, 10 de agosto de 2013
- ↑ Caetano Veloso: Pai - O Globo, 11 de agosto de 2013
- ↑ [Comissão da Verdade cobra da PM desaparecimento de morador da Rocinha Comissão da Verdade cobra da PM desaparecimento de morador da Rocinha] - Jornal do Brasil, 22 de julho de 2013
- ↑ Mistério: pedreiro desaparece no Rio e sumiço ganha repercussão mundial - Domingo Espetacular (R7), 04 de agosto de 2013
- ↑ Anistia Internacional cobra das autoridades desfecho do caso Amarildo - Agência Brasil, 11 de agosto de 2013
- ↑ Financial Times também se pergunta "Onde está Amarildo" - Exame, 04 de agosto de 2013
- ↑ Cabral promete mobilizar governo para descobrir paradeiro de morador da Rocinha desaparecido - O Globo, 24 de julho de 2013