[go: nahoru, domu]

Saltar para o conteúdo

Janaina Mello Landini

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
A versão imprimível já não suportada e pode apresentar defeitos de composição gráfica. Atualize os favoritos do seu navegador e use a função de impressão padrão do navegador.
Janaina Mello Landini
Nascimento 20 de Setembto de 1974
São Gotardo - Minas Gerais
Nacionalidade brasileira
Ocupação artista plástica

Janaina Mello Landini (20 de setembro de 1974) é uma artista visual contemporânea brasileira.

O trabalho da artista parte da apreensão semiótica das forças naturais e do comportamento humano para refletir sobre a complexidade do 1, do individual e singular, ao criar uma linguagem que incorpora noções em torno da relação entre frequência, ritmo e tempo, mostrando a interconexão infinita das trajetórias individuais em um sistema, na sociedade ou no nosso planeta. Suas obras transitam entre diferentes escalas, do objeto aos espaços públicos.[1]

Nos últimos anos, exibiu seus trabalhos em exposições no Brasil, França, Holanda, Estados Unidos e Emirados Árabes. Seu trabalho participa de coleções privadas e institucionais como o Museu de Arte do Rio, a Fondation Carmignac e BIC Collection na França e na sede do Facebook em Menlo Park[2]. Suas principais exposições foram no Palais de Tokyo em Paris[3], no castelo de Chaumont-sur-Loire, na 13ª edição da Bienal do Mercosul [4]e na Zipper Galeria.

Carreira

Janaina de Mello Castro Landini nasceu em São Gotardo, Minas Gerais. Graduou-se em arquitetura em 1999 e cursou Belas Artes de 2004 a 2007, ambas na Universidade Federal de Minas Gerais. Em Belo Horizonte, trabalhou como arquiteta por dez anos e criou cenografias e figurinos em algumas peças de teatro e filmes de propaganda entre 2003 e 2006. Em 2010, Janaina fez direção de arte do longa-metragem Deserto Azul de Eder Santos[1]. Em seguida, coordenou a produção das montagens artísticas em Inhotim e foi diretora de design de produtos da loja do mesmo instituto[5]. Em 2013, mudou-se para São Paulo para se dedicar exclusivamente à própria arte.

Ciclotramas

Em 2010, Janaina iniciou sua experimentação de desenhar no espaço quadridimensional utilizando a tensão física, a torção de fios, pregos e nós para tocar em temas como interconectividade e interdependência[6], e sobre as telas, o desenho se transforma num misto de pintura, escultura e bordado. Ciclotrama é um neologismo da própria artista para se referir a construção de uma estrutura esquemática, fractal e binária, que tende a um infinito potencial[7].

Como ato, "ciclotramar" é uma ação continuada de longa duração que consiste em dividir o todo e suas partes como na mereologia, estabelecendo uma relação com a prática artesanal, desmembrando uma corda sucessivamente em dois grupos até que sua unidade indivisível fique aparente e sustente todo o sistema.[8] As Ciclotramas são pensadas a partir de sua condição de linguagem, uma ferramenta do repertório criado pela artista para o exercício de hermenêutica, costurando diferentes concepções formais epistemológicas, ontológicas e metafísicas num entendimento mais relativista, autônomo e poético que estas formas evocam.

As primeiras Ciclotramas da série Impregnação representaram o pensamento analítico dos conceitos de cálculo infinitesimal utilizando a forma das árvores binárias, onde a individuação de cada fio de uma corda pode ser visível dentro de conjunto maior[3]. Em seguida, a série Aglomeração[9] surge a partir das imagens trazida pelo atlas de anatomia humana e cirurgia de J.M.Bourgery e N.H.Jacob, onde a anatomia dos órgãos revela que as veias são estruturas semelhantes às Ciclotramas e esta forma está diretamente ligada à hidrodinâmica, revelada por Leonardo da Vinci ao tentar desenhar árvores, sendo o sangue um fluido, assim como a água dos rios e a seiva das plantas e do micélio. Surge-se a sobreposições das tramas criando uma estrutura mais próxima de um rizoma.

Na série Palíndromo[9], cujas extremidades foram ambas "ciclotramadas", formaliza-se a leitura cíclica entre fio versus corda versus fio, trazendo um viés hermético, onde todos os fios que estão de um lado também estão do outro lado da corda. A série Mãe Natureza destaca o palíndromo. Numa referência aos haplogrupos ou a árvore genealógica, estas Ciclotramas colocam em questão uma escala que ultrapassa o ciclo da vida individual mas que ao mesmo tempo o compõe.

Na série Expansão[8], cordas de diferentes constituições apoiadas sobre o chão sobem em direção à tela feita de vela náutica, bordada com as linhas da rosa dos ventos, faz-se referência às cartas náuticas de Portulano, delimitando cada uma das cordas suas próprias projeções cartográficas como referência a este novo modo solipsista de estar no mundo através das redes de internet. Na série Superestrato[10], camadas volumosas e biomórficas são engendradas a partir de fios de tipos diversos e configuram corpos complexos.

Na série Clusters[10], a margem vazia das telas sugere a ideia de representação de um recorte de algo muito maior e introduz o conceito de relação de ordem entre indivíduos distintos Na série Imanência, a visão conceitual do plano de imanência de Deleuze e Guattari guia a pesquisa. A ideia da singularidade de “uma vida” trazida pelo autores, se faz presente no corpo colorido de uma das tramas em meio a tantas outras tramas monocromáticas que se espalham para além das bordas da tela.

A série dos Diálogos[4] acontecem pela afinidade conceitual. A progressão geométrica dos fios da trama foi substituída pela sequência de Fibonacci em diálogo com o matemático Leonardo Fibonacci. A aproximação com a pesquisa do neurocientista Santiago Ramon y Cajal também provocou um diálogo sobre a configuração dos neurônios cerebrais.

Este pensamento sistêmico é a essência do campo de afeto de uma Ciclotrama. Em última análise, não se trata de representar metáforas, mas de criar um sistema abstrato desses temas e fenômenos equivalentes.

Labirintos

Em 2009, iniciou a série dos Labirintos que se manteve complementar à pesquisa das Ciclotramas. Enquanto as Ciclotramas são pensadas de maneira calculada e interdependente e o resultado tem aparência biomórfica, os Labirintos são pensados de forma fluida e rizomática, pois suas perspectivas são impossíveis de existir na realidade, portanto possui um resultado é cartesiano.[11]

A artista iniciou o exercício de invenção de uma perspectiva inspirada num palácio da memória, o percurso começa a partir de lugar real do mundo, como um quarteirão de uma cidade ou um apartamento. Num movimento mental de busca em profundidade, o espaço conhecido é registrado, somando-se o que se vê a cada esquina ou nó, nesse caso, desconsiderando detalhes, se atendo apenas ao traçado dos espaços não edificados, espaços negativos ou ainda dos espaços permeáveis das possibilidades de ir e vir. Por consequência as vias se formam esquematicamente através dos elementos relativos aos espaços edificados, impermeáveis ou espaços positivos, como descrito no livro de Marc Augè, o Não-Lugar, e fazendo referência ao conceito criado por Christopher Alexander.

A tela, apresenta ao expectador uma perspetiva central que converge à uma centralidade mas não a um ponto de fuga, onde se apresentam somados vários pontos de observação, ao mesmo tempo numa única linha de visada. Esse labirinto descortinado permite que o olhar da pessoa entre e saia pelas vias, podendo se colocar em todos os lugares ao mesmo tempo. Estes são chamados Labirintos Rizomáticos.[12]

Para a criação destes quadros a artista utiliza fitas de cetim de diferentes cores e larguras, tensionadas e fixadas na borda do chassi. Os desenhos são produzidos através do cruzamento das fitas sobre e sob a superfície como uma trama, ao final, as fitas recebem uma camada escurecedora à base de carvão mineral para diminuir o brilho e revelar a trama posterior. O cetim utilizado nas telas funciona como um elemento apurador: o material reflete a luz de acordo com a posição do olhar; à medida que o espectador passa, a incidência luminosa altera os corredores criados pela perspectiva.[13]

Em 2016, a artista apresentou a série Labirintos Sintrópicos na Zipper Galeria[13]. Utilizando pregos e fios elásticos, ela realizou um conjunto especial de obras em cetim, partindo de sua pesquisa sobre os Labirintos Rizomáticos.

Espaço Preso

Em Espaço Preso, a artista reviveu uma de suas instalações da série Ludic Spaces ou Labirintos da Maldade concebida no início dos anos 2000. Estas instalações tinham como ponto principal a elaboração de um espaço que proponha a ativação de uma relação afetiva pela via da conexão indivíduo-meio. Espaço Preso foi o único da série já construído. A primeira versão aconteceu em 2011 no Palácio das Artes em Belo Horizonte, no Festival Eletrônica[14]. Em 2022, a instalação foi apresentada na Zipper Galeria em São Paulo e também na 13ª edição da Bienal do Mercosul em Porto Alegre.[15]

A instalação da artista permitiu ao visitante passear por uma sala com uma entrada e uma saída claramente visíveis. O interior, contudo, foi entrecortado por uma sequência de "grupos de força", estruturas conceitualmente construídas por conjuntos de elásticos que se repetem e se somam no espaço, criando uma aparência caótica.

À medida que o corpo avança nesse emaranhado, os conjuntos elásticos se deformam e ressonam no espaço, criando novas camadas de experiência. A sonoridade que surge a partir da vibração dos elásticos é um dos pontos fundamentais do trabalho. O músico percussionista Paulo Santos[16] criou uma composição musical com durações variadas em 16 canais distribuídos em sensores que vão se ativando e se somando pela movimentação do corpo como num rastro sonoro que pode ser conduzido do estado mais harmônico ao estado cacofônico, mas sempre aleatório.

Referências