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'''Jean Bodin''' nasceu em ([[Angers]], França [[1530]], e faleceu em [[Laon]], também na França em [[1596]],) foi um [[teórico político, jurista]] [[França|francês]], membro do [[Parlamento]] de [[Paris]] e professor de [[Direito]] em [[Toulouse]].Também adeptoO daautor teoriaé doreconhecido direitopelos divinoseus dosestudos reis,que Jeanforam Bodinde tornou-sesuma conhecidoimportância comopara o Procuradoravanço Geraldos doconceitos Diabode devidosoberania ae suaabsolutismo incansáveldos perseguição a feiticeiras e heregesEstados. EleAlém é considerado por muitos o ''pai'' da [[Ciência Política]] devidodisso, a suaexposição [[teoria]]de sobre [[soberania]]. Baseou-se nesta mesma teoria para afirmar queseus pensamentos a legitimaçãorespeito do podermodelo dode homemgoverno sobreideal afoi mulhermuito einfluente dana monarquia sobre a [[gerontocracia]]Europa.
 
Suas principais obras são: “Methodus ad facilem historiarum cognitionem" e “De Republica libri sex".
As principais obras de Bodin, são 3: “Método fácil para a compreensão da história”, “Os seis livros da república”, e o principal: “Da República”.
 
== Vida pessoal ==
Ele escreveu diversos livros, mas a [[Inquisição]] condenou a muitos deles porque o autor demonstrou simpatia pelas teorias [[Calvinismo|calvinistas]]. Estes calvinistas, chamados [[Huguenotes]] na [[França]], eram processados pela [[Igreja católica]] assim como outros grupos [[protestante]]s ou reformadores [[cristão]]s o eram em outros países católicos.
Contemporâneo de ''[[Nostradamus]]'' e [[Michel de Montaigne|Montaigne]], Jean Bodin nasceu em [[Angers]], no oeste da França, entre junho de 1529 e junho de 1530.<ref>Saillot, 1985, p. 112.</ref> Filho do rico comerciante e costureiro, Guillaume Bodin, com Catherine Dutertre, cujo pai era procurador do convento carmelita de Rene Dutertre Angers.<ref>Jacobsen, 2000, p. 40.</ref>
 
Sendo o quarto de uma família com sete filhos, Jean estudou em sua cidade natal e ainda novo foi viver no monastério Notre-Dame-des-Carmes.<ref name=":2" /> Em 1545, ele viajou para Paris para estudar filosofia com o carmelita Guillaume Prévost no Convento Carmelitas de Grand Paris. Grande amante das linguagens, ele aprendeu hebraico com Jean Mercierbe<ref>Lloyd, 2017, p. 7-8.</ref> e grego com [[Adrianus Turnebus]].
Seus livros dividiram opiniões: alguns escritores franceses os admiravam, enquanto [[Francis Hutchinson]] foi seu detrator, criticando sua [[metodologia]]. As obras escritas por Bodin faziam diversas alusões a julgamentos de bruxos e o procedimento que deveria ser seguido, dando-lhe a reputação de um homem sanguinário, defendeu a autoridade do monarca até mesmo diante das imposições da Igreja Católica.
 
Em 1546 ele, provavelmente, viu a execução do humanista Etienne Dolet, condenado pela publicação de livros heréticos.<ref>Lloyd, 2017, p. 7.</ref> No ano seguinte ele é processado por heresia e é liberado de seus votos monásticos por conta da intervenção de Gabriel Bouvery, o Bispo de Angers.
Sobre sua obra podemos dizer que Jean Bodin é um autor que enaltece o absolutismo, adotando o direito como solução para defender o fortalecimento do poder.
 
Em 1550, Jean Bodin chega a Toulouse onde cursa Direito e se torna professor de [[direito romano]]. Durante esse período, ele escreve diversos tratados que foram perdidos até a sua morte. Quando se formou na faculdade, Bodin virou editor científico da tradução do grego para o latim dos trabalhos do poeta grego [[Opiano de Apameia]];<ref name=":2" /> ele foi, cinco anos depois, acusado de plagiar sua tradução latina de ''Cynegetica'' de Opiano,<ref>Blair, 1997, p. 9.</ref> mas foi inocentado.
Preocupado em definir o que seja uma república (sinônimo de Estado). Para ele Estado é o conjunto de famílias ou de colégios submetidos a uma só autoridade.
 
Em 1559 ele publica um tratado sobre a educação (''Oratio de instituenda na republica juventute)'' para apoiar sua candidatura para o cargo de diretor do Colégio do Esquile,<ref>Baudrillart, p. 114.</ref> no qual defende que o [[humanismo]] deveria ser ensinado nas escolas, já que isso fortaleceria a harmonia política e religiosa do Estado.
Propõe ainda que as famílias e/ou colégios devem estar reunidos sobre a mesma autoridade, de modo que o poder já se identifica como uma regência centralizada dos diversos grupos.
 
Educação para todos os cidadãos e religião para todos os fiéis, sem que houvesse diversidade religiosa e cultural, foram temas importantes durante a vida de Bodin.
Para ele a república é governada a partir da consciência harmônica de 3 tipos de leis: a lei moral, de foro íntimo de cada individuo; a lei doméstica, que é de âmbito da casa; e a lei civil, que tem por âmbito de aplicação as relações entre as famílias e os colégios.
 
=== Conselheiro de Príncipes ===
Há ainda um quarto elemento na definição bodiniana: a soberania
[[Ficheiro:Methodus Jean Bodin 1566.png|miniaturadaimagem|426x426px|''Methodus'' - Jean Bodin]]
No ano seguinte, ele foi recebido pelo parlamento francês como advogado e conselheiro do rei. Ele publicou, em 1566, ''Método para a fácil compreensão da história'' (conhecido também como ''Methodus).'' Nesse trabalho ele desenvolve seu conceito de conhecimento histórico universal.<ref name=":2">T''he Stanford Encyclopedia of Philosophy''</ref> O livro ganhou uma segunda edição aumentada em 1572, devido ao sucesso.
 
Em 1568, ele foi preso na [[Conciergerie]] "por religião" e permaneceu assim até agosto de 1570,<ref>Couzinet, 1996, p. 239.</ref> ano em que chamou a atenção de [[Carlos IX de França|Carlos IX]], que o nomeou comissário para a Reforma das Florestas da Normandia. Bodin executou essa tarefa com zelo, perseguindo implacavelmente os farsantes do reino contra a qual ele trouxe até quatrocentos julgamentos.<ref>Baudrillart, p. 116-117.</ref>
A soberania é o cimento das relações sociais. E quem a exerce não pode ser restrito ou limitado.
 
Sua reputação cresceu junto com seu interesse pela vida pública e os problemas do reino. Bodin se tornou conselheiro de [[Francisco, Duque de Anjou|François-Hercule]], Duque de Anjou, irmão mais novo do rei. Em oito de agosto de 1573, Bodin estava em [[Metz]] como um dos membros da delegação que recebeu os embaixadores da Polônia, que vieram oferecer a coroa do país ao irmão do rei, Henrique, Duque de Anjou. O bispo e Duque de Landres, Charles des Cars, deu boas vindas aos embaixadores com um discurso em latim que foi, imediatamente, traduzido para o francês por Jean, que virou parte da corte de [[Henrique III de França|Henrique III]], Rei da Polônia e da França.<ref name=":2" />
Com base na noção de soberania é que se forma a tripartição de formas pelas quais ela pode ser exercida. Aliás, muito semelhante às formas de governo aristotélicas: monarquia; ou aristocracia; ou democracia.
 
Jean Bodin se casou com Françoise Trouilliart em 25 de fevereiro de 1576. Françoise era uma viúva rica cujo irmão, Nicolas Trouillard, fazia parte do Ministério Público.<ref>Blair, 1997, p. 10.</ref>
Bodin posiciona-se favoravelmente no sentido da monarquia. Ele dá 3 argumentos para essa escolha: o primeiro vem da história, o segundo vem da autoridade de grandes pensadores e da lei de Deus, o terceiro, o argumento mais forte é que não se pode dar ou receber ordens de um companheiro.
 
O ano de 1576 foi importante para Bodin, que publicou nesse ano sua obra [[Six Livres de la République|''Os Seis Livros da República'',]] em que tentou restaurar as bases institucionais do reino Francês, cuja guerra em andamento ameaçava enfraquecer por causa, dentre outras razões, da doutrina dos reformadores sobre tirania.<ref name=":2" />
Todavia, existem algumas limitações ao poder do soberano. São as leis naturais e as leis divinas.
 
Em 1578, Bodin publicou ''Exposition of universal Law (juris),'' um pequeno livro metódico no qual sua teoria de direito universal completa sua visão de história universal que ele havia explorado em ''Methodus''.<ref name=":2" /> Publicou, então, uma reflexão sobre a essência do direito, ''Luris universi distributio'', que completa o arcabouço teórico iniciado com a ''República'': "Ao apresentar uma teoria jurídica e política do Estado, Bodin, indiretamente, faz uma contribuição essencial para a formação do direito internacional público contemporâneo”.<ref>Legohérel, 1999, p. 40.</ref>
Os limites ao poder, na concepção bodiniana, são esses dados pelas leis anteriores ao soberano, existentes na natureza e criadas por Deus.
 
No ano seguinte, Jean publicou o Tratado de demonomania dos feiticeiros (''De la demonomanie des sorciers''), um livro que tratava de temas polêmicos como demonologia. Após ser acusado de bruxaria, ele escreveu ''De demonomania bruxas'' (1580), uma espécie de guia para os tribunais em que exigia penas severas contra quem pratica feitiçaria.<ref>Jacobsen, 2000, p. 49.</ref>
O soberano é antes de mais nada um servo de Deus:
 
No ano de 1581, em uma viagem a Inglaterra para acompanhar o rei [[Francisco II de França|Francisco II]] da França na negociação de seu casamento com [[Isabel I de Inglaterra|Isabel I]],<ref>Couzinet, 1996 , p. 242.</ref> Jean descobriu que a [[Universidade de Cambridge]] usava seu livro ''Os seis livros da República'' e, pretendia traduzi-lo para ser mais acessível para estudantes estrangeiros.<ref>Maloy, 2017, p. 4.</ref> Dois anos depois, também acompanhando o rei [[Francisco II de França|Francisco II]], ele foi tomado como prisioneiro no ataque de Antuérpia, mas foi rapidamente liberado.
“Todos os príncipes da terra estão submetidos à lei divina e não tem poder de contrariá-la, se não querem ser culpados de crime de lesa majestade, fazendo guerra contra Deus” (República I, 8, p.192–193)”
 
Com a morte de Francisco II (1584), ele se retirou para [[Laon]], tornou-se conselheiro do rei de Navarra ([[Henrique IV de França|Henrique IV]]) e, apenas três anos depois, tornou-se procurador da coroa.<ref>Blair, 1997, p. 11.</ref>
As leis divinas e naturais são a medida que define a diferença entre monárquico e tirano: um se conforma com as leis da natureza,o outro as pisoteia.
 
Além disso, foi acusado de heresia e teve sua casa invadida e seus livros queimados duas vezes, a primeira em 1587 e a segunda em 1590.
Não obstante, surge um problema a essa teoria. Quando um rei se torna tirano cabe ao povo julgar seus procedimentos? Para Bodin,o povo não pode se rebelar mesmo que caia nas mãos de um tirano que desrespeita a lei divina e natural.
 
Jean Bodin morreu vitima de [[peste bubônica]] entre junho e setembro de 1596 em [[Laon]]. Ele teve um casal de filhos que morreram antes de atingirem a idade adulta. Nos seus últimos anos ele esteve ocupado com dois projetos: o primeiro se chama ''Colloquium of the seven about secrets of the sublime'' e trata da essência da religião. O segundo, ''Theater of Universal Nature'', aborda a filosofia natural.<ref name=":2" />
Na concepção bodiniana não há uma autoridade capaz de julgar o soberano, isso seria uma afronta à própria soberania e, a esse que afronta o soberano, só resta uma sentença: a morte.
 
=== Religiosidade de Bodin ===
Para Bodin, a desordem e desgoverno são males, ele acredita firmemente na soberania absoluta, discorrendo com cientificidade e sistematicidade sobre o tema. Bodin é o homem de uma época em que o feudalismo estava sendo substituído pelos estados centralizados..
Durante sua juventude, Jean recebeu uma educação católica e foi fiel ao catolicismo durante toda sua vida, mas, apesar disso, ele era um crítico da Igreja. Ele defendia a ideia da "religião verdadeira", que seria olhar para Deus com um espírito purificado.
 
Apesar de fazer críticas também ao papa, não é certo considerar Bodin um [[Protestantismo|protestante]], como muitos biógrafos fizeram, porque ele não necessariamente apoiava os reformistas.<ref name=":2" />
== ''De la République'' ==
As ideias de Bodan, rei do absolutismo, além de retratarem e idealizarem o que foi o [[Absolutismo|Estado Absolutista]] no "''ancien régime''" de França: um Estado onde se considerava o poder do monarca como absoluto e de origem divina (teoria do "[[direito divino dos reis]]"); onde a propriedade privada era inviolável segundo os princípios do [[Direito romano|direito civil romano]] ("''jus''"), contando com forte apoio por parte da [[burguesia]] mercantil.
 
Bodin muitas vezes é visto como um homem contraditório, assim como muitos dos renomados escritores, artistas e políticos do período do Renascimento. Mesmo sendo um grande escritor político, ele também escreveu sobre bruxaria. Essa aparente contradição entre racionalidade e religiosidade, era comum e muito presente nos séculos de transição entre o período medieval e o período moderno.
Jean Bodin foi o primeiro [[autor]] a dar ao tema da [[soberania]] um tratamento sistematizado, na sua obra ''[[Les six livres de la republique]]'' ("Os Seis livros da República"), publicada em [[1576]]. Para ele, a soberania é um poder perpétuo e ilimitado, ou melhor, um poder que tem como únicas limitações a lei divina e a lei natural. A soberania é, para ele, absoluta dentro dos limites estabelecidos por essas leis.
 
Assim como muitos homens de sua época, Bodin dialogava com as mudanças políticas que surgiam, mas ainda possuía muitas características da religiosidade medieval. Em seu livro ''De demonomania bruxas,'' ele teceu críticas sobre práticas consideradas como bruxaria e buscou justificar a perseguição e caça às bruxas.<ref>Lopes, 2012.</ref>
A idéia de poder absoluto de Bodin está ligada à sua crença na necessidade de concentrar o poder totalmente nas mãos do governante; o poder soberano só existe quando o povo se despoja do seu poder soberano e o transfere inteiramente ao governante. Para esse autor, o poder conferido ao soberano é o reflexo do poder divino, e, assim, os súditos devem obediência ao seu soberano.
 
== Posições políticas ==
Bodin entende, ainda, que da obediência devida às leis natural e divina deriva uma terceira regra, pela qual o príncipe soberano é limitado pelos contratos que celebra, seja com seus súditos, seja com estrangeiros, e deve respeitar tais acordos.
Jean Bodin apresentou o poder soberano como a condição indispensável para a instituição de uma sociedade política, já que os outros elementos não seriam suficientes para assegurar um Estado soberano. Estes elementos seriam três:
 
# A justiça: elemento que diferenciaria a república de uma sociedade comandada por piratas e ladrões, por isso as relações seriam organizadas e justas.
== Crítica ao escravagismo ==
# A família: Bodin afirmava que esta era a origem da república, afinal o surgimento das sociedades políticas se deu a partir do agrupamento de várias famílias. Além disso, a estrutura familiar servia de exemplo para o desenvolvimento da república devido a suas claras relações de mando e obediência: o comando do marido sobre a esposa, do pai sobre os filhos e do senhor sobre os escravos. Essas relações revelariam que existe uma relação de poder próprio da condição humana. Por isso a imagem do chefe de família é comparável a imagem do poder soberano.
Bodin acreditava que os povos das três grandes religiões monoteístas ([[judaísmo]], [[cristianismo]] e [[islamismo]]) cortaram pela metade a lei de Deus relativa à [[escravidão]] <ref>''I sei libri dello Stato'' (orig. 1576) trad. it. Margherita Isnardi Parente, UTET, Torino, 1988, II ed., vol I, p 257-59 cap. 5 in Losurdo, Domenico in Contra-História do Liberalismo, 2006, p. 42</ref>, se opõe a tese de [[Aristóteles]], segundo a qual o caráter universal e permanente do instituto da escravidão seria prova de que existiriam homens e povos escravos por natureza, lembrando que não menos universais e recorrentes são as revoltas de escravos<ref>''I sei libri dello Stato'' cit., vol I, p 239, 247, 240, cap. 5 in Losurdo, amaro de almeira 3256 Domenico in idem, p. 43</ref>.
# A necessidade de existir bens públicos entre as famílias em locais públicos, o que é fundamental para fortalecer os laços entre as famílias, mas sem cair em formas extremas de coletivismo, o que seria contrário ao direito natural de propriedade privada.
 
Mas todas essas características fundamentais seriam insuficientes se não houvesse entre elas algo que assegurasse a união. Para isso era necessário o reconhecimento de uma só autoridade que exerceria o poder, a qual todos estivessem submetidos e que não fosse comandada por ninguém.
Lembrava também que a permanência de certo fenómeno não garante que tal fenómeno ocorra por vontade de [[Deus]], do contrário, poder-se-ia concluir que a impiedade e a maldade se perpetuariam por vontade de Deus<ref>pode-se concluir a partir da leitura de trecho de ''I sei libri dello Stato'' (cit., vol I, p 239, 247, 240, cap. 5 transcrito em Losurdo, Domenico in idem, p. 43</ref>.
 
Esse poder poderia residir em uma pessoa, em algumas ou em todo o povo, o que resulta nos seguintes modelos: monarquia, aristocracia e democracia. Bodin rejeitava a existência de um quarto modelo que viria da mistura dos outros três por meio da partilha da soberania, ele argumenta que isso levaria a destruição da soberania, já que a unidade de comando desapareceria.<ref name=":3">Barros, 2009.</ref>
Não aceitava o direito de guerra como justificativa para a escravidão, declarando que "guardar para si os prisioneiros para seu próprio proveito como se fossem animais não é piedade<ref>''I sei libri dello Stato'' cit., vol I, p 242, cap. 5 em Losurdo, Domenico in idem, p. 43</ref>"
 
=== Estado e governo ===
Dizia também que: "se levarmos em consideração quantas maldades e crueldades abomináveis foram cometidas pelos senhores contra os escravos, podemos concluir que é pernicioso admitir a escravidão, ou, depois de abolida, reintroduzi-la<ref>''I sei libri dello Stato'' cit., vol I, p 261, cap. 5 em Losurdo, Domenico in idem, p. 44</ref>"
Bodin, por rejeitar a mistura dos três modelos, acreditava que existia um problema causado pela confusão entre Estado e governo. Assim, determinou Estado como designação das três maneiras de organização que uma república pode ter, baseada no número de pessoas que detém o poder soberano, ou seja, monarquia, aristocracia e democracia. Já o governo carrega a função de indicar a maneira como o poder é exercido: legítimo, despótico ou tirânico.<ref name=":3" />
[[Ficheiro:Préface République de Bodin.gif|miniaturadaimagem|409x409px|Prefácio: Os seis livros da república.]]
Bodin almejava uma forma perfeita de governo com a prosperidade material e formação intelectual que geraria um desenvolvimento espiritual dos súditos que, por fim, seria marcado por uma estrutura racional e absoluta. Sendo assim, desenvolvimento da república dependia da consolidação da ordem e da obediência das leis, pois um estado forte, baseados na ética judaico-cristã, necessitava de leis extremamente ordenadas e obedientemente seguidas. Portanto, uma sociedade cívica só existe quando todos os cidadãos são regidos pela mesma lei e, para a construção de um estado, é necessário o domínio de um soberano.<ref name=":4">Lenz, 2004.</ref>
 
Entre os poderes do soberano, legislar, mesmo sem a aprovação popular, seria o mais importante, porque os demais direitos são derivados deles, mas o poder pode ser delegado a magistraturas, desde que não haja uma transferência completa da tomada de decisões, e que todas passem pelo soberano. O príncipe, segundo o autor, ao exercer o governo, deve ser livre de cumprir as leis que estabeleceu, afinal ninguém pode ordenar a si mesmo. Também deve ser imune as leis de seus antecessores. Assim o soberano deve ter o poder de alterar as leis segundo a sua vontade.<ref name=":3" />
Lembrava que escravidão já era um instituto nefasto na antiguidade clássica, onde a servidão de um número de homens nitidamente superior ao número de cidadãos livres, trazia consigo o constante pesadelo da revolta de escravos, tanto que para evitá-las não se hesitava em recorrer a medidas bárbaras, como ocorreu em [[Esparta]] o massacre de 30.000 hilotes em uma só noite<ref>''I sei libri dello Stato'' cit., vol I, p 247-48, cap. 5 em Losurdo, Domenico in idem, p. 44</ref> e que a Europa fora libertada da escravidão aproximadamente em 1250, lamentando seu retorno em decorrência da expansão colonial, citando que em Portugal a posse de escravos assemelhava-se à posse de verdadeiros rebanhos de animais<ref>''I sei libri dello Stato'' cit., vol I, p 253, 238, 260, cap. 5 em Losurdo, Domenico in idem, p. 44</ref>, atribuindo à avidez dos mercadores, a causa da re-introdução da escravidão no mundo e declarando que somente o poder monárquico poderia dar fim a esse fenómeno<ref>''I sei libri dello Stato'' cit., vol I, p 260, cap. 5 em Losurdo, Domenico in idem, p. 45</ref>.
 
Apesar de ser soberano, o poder do príncipe não seria totalmente arbitrário e sem limites, estando constantemente sujeito as leis de Deus e da natureza, afinal são leis imutáveis, presentes em todos os povos. São essas leis que Bodin considerava fundamentais e deveriam permanecer acima de qualquer vontade particular, sem que nenhum líder político pudesse altera-las. Essas leis mantinham a sociedade longe do caos completo e, dentre elas, estava a lei Salica de sucessão do trono e a lei que proíbe a alienação dos domínios da coroa.<ref name=":3" />
A tese da necessidade de um poder estatal forte para por fim à escravidão iria receber o aval de [[Adam Smith]], e Miguel Pereira dois séculos mais tarde.
 
O poder absoluto do soberano tinha limites segundo as leis que expressão a vontade de Deus, o bem da república e da soberania.<ref name=":3" />
{{referências}}
 
Para Bodin, o monarca precisa alcançar, por meio da ordem, o estado eficiente que atende à três aspectos básicos: materiais, espirituais e mentais e, para alcançar tais aspectos, o soberano precisa ser absoluto e, também, manter a ordem no seu território. Além disso, o monarca jamais poderia ser combatido pelos seus próprios súditos.<ref name=":4" />
 
Bodin, portanto, visava à paz, à prosperidade, à formação cultural e espiritual em função da felicidade geral. Somente uma monarquia legítima faria um corpo único sólido e forte.<ref name=":4" />
{{Portal3|Biografias|Direito|França}}
 
== Os seis livros da república ==
[[Ficheiro:Les Six livres de la République.jpg|esquerda|miniaturadaimagem|349x349px|''Les Six Livres de la République'' - Jean Bodin]]
“[[Six Livres de la République|Os Seis Livros da República]]” é uma das grandes obras de Jean Bodin, considerada como o primeiro tratado político sistemático da época.<ref name=":5" /> A obra foi escrita em meio às guerras de religião e pretendia resolver os impasses nas guerras civis e religiosas na França e, ao mesmo tempo, que fosse uma obra acessível.
 
Bodin publicou um dos últimos [[espelhos do príncipe]] visando assuntos a manutenção e organização da república em prol do desenvolvimento econômico do Estado. "Os Seis Livros da República" tratam da definição de conceitos e as funções da república, famílias, notoriedade, cidadão, estrangeiros; das formas de governo - monarquia, aristocracia e democracia; dos funcionários do governo hierárquico. Além do auge e decadência das repúblicas, demografia, riqueza e pobreza, caridade, punições, segurança, finanças e apologia à monarquia soberana.<ref name=":4" /> O autor explorou o conceito de república e o propósito desse sistema político com base na sua teoria a respeito da soberania. Além disso, também são tratados os temas da felicidade do homem entrelaçada à República; o estabelecimento de metas para a evolução do governo, evitando, assim, sua dissolução com o tempo.<ref name=":5">Bodin, 1576, p. 79.</ref>
 
Bodin também traz propostas da maneira de como tal sistema de governo deveria agir. Frente a situações de transgressão ou delinquência, o governo, “reto-governo”, não deve de forma alguma compactuar. ” O autor também exemplifica como a República deve lidar com os ladrões e transgressores, reconhecendo aqueles que após transgredirem a lei, entregam-se a justiça.<ref>Bodin, 1576, p. 71-72.</ref>
 
A narrativa procedeu apontando as bases do funcionamento da República, mas não de uma forma utópica como, na visão de Jean Bodin, era a república de Platão, e sim, reconhecendo seus defeitos e seguir as regras políticas de forma mais rigorosa possível.<ref>Bodin, 1576, p. 74.</ref>
 
O autor também acrescentou finalidades da República defendida por ele, seus atributos e recursos:{{Quote|Pode-se também dizer, comparando o pequeno com o grande, que a República deve ter um território suficiente e um lugar adequado para seus habitantes, a fertilidade de um país suficientemente abundante e gado bastante para o alimento e a vestimenta de seus súditos; para mantê-los saudáveis, a brandura do céu, a temperatura do ar, a bondade das águas; para a defesa e abrigo do povo, os materiais próprios para construir casas e praças -fortes se o lugar em si não for suficientemente coberto e defensável. Eis as primeiras coisas das quais se tem maior necessidade em toda República; depois se buscam as comodidades, como os medicamentos, os metais, as tinturas; para sujeitar os inimigos e alongar as fronteiras por conquistas, armazena-se armas ofensiva.<ref>Bodin, 1576, p. 79.</ref>}}
 
== Crítica à escravidão ==
[[Ficheiro:Bodin Republique Loi Salique.png|miniaturadaimagem|Página do livro "Os Seis Livros da República" (''Les six livres de la republique'')|305x305px]]
Jean Bodin, teórico da monarquia absolutista, colocou em pauta a discussão do poder absoluto que o dono exercia sobre o escravo<ref name=":0">Losurdo, 2015.</ref>, pois entendia que o escravismo estava dentro de relações de mando e obediência.<ref>Barros, 2009.</ref>
 
[[Domenico Losurdo]], na obra Contra-História do Liberalismo, declarou que Jean Bodin se opõe a tese de [[Aristóteles]], que defendia o caráter universal da escravidão como prova de que existiriam homens e povos escravos por natureza. Bodin notou que no mundo hebraico apenas gentios podiam ser submetidos à escravidão perpétua e os cristãos e islâmicos seguiam costumes análogos,<ref name=":0" /> por isso, Bodin afirmou que os povos das três religiões cortaram pela metade a lei de Deus relativa à escravidão e, também, tratou sobre a livre escolha humana do bem e do mal, negando o discurso da escrevidão ser natural.<ref name=":1">Bodin, 1576.</ref> Afirmava ainda não ver sentido na justificativa da escravidão com base no direito de guerra, afinal guardar os prisioneiros para si e usá-los como animais não era caridade.
 
[[John Locke]] também se opunha ao Bodin, pois Locke, com olhar voltado ao passado, apontava [[Espártaco]] como responsável de uma agressão contra a propriedade privada e o poder legítimo,<ref name=":0" /> enquanto Bodin, décadas antes, afirmava ser nocivo permitir a escravidão, marcada por crueldades abomináveis que os senhores cometeram contra seus escravos.<ref name=":1" />
 
Bodin também abordou a reintrodução da escravidão que, na [[antiguidade]] clássica, o número de escravos era superior aos dos cidadãos livres que viviam constantemente em revoltas de escravos, como, por exemplo, aconteceu em Esparta o massacre de 30 mil hilotes em apenas uma noite. A escravidão, que deixou de ser aceita na Europa depois de 1250, estava retornando com a [[Colonização|expansão colonial]] ultramarina de forma renovada. Bodin atribui a volta da escravidão à ganância dos mercadores<ref name=":0" /> e acrescenta a necessidade dos príncipes colocarem ordem, caso contrário o mundo ficaria cheio de escravos em pouco tempo.<ref name=":1" />
 
== Legado ==
A concepção de soberania definida por Bodin foi notada em vários países da [[Europa]] e teve um papel importante no absolutismo enquanto simplificada e interpretada por juristas, entre outros.
 
Na França, teve seguidores como o jurista Pierre Grégoire<ref>Richard Tuck (1993), ''Philosophy and Government (1572–1651)'', p. 28;</ref> e sua ideia de Estado inspirou [[Pierre Charron]] em ''La Sagessede'' (1601).<ref>J. H. Elliott, ''Richelieu and Olivares'' (1991), p. 44</ref> Como demonologista é considerado autoritário, como historiador, é citado em ''Methode pour etudier l'Histoire'' de Nicolas Lenglet Du Fresnoy.<ref>Herbert Butterfield, ''Man and his Past'' (1969), p. 3.</ref>
 
Na Itália, Bodin era um historiador renomado como [[Nicolau Maquiavel|Maquiavel]] e os venezianos concordavam com sua ideia de soberania;<ref>Bouwsma, p. 438.</ref> já na Espanha, foi colocado no Índice de Quiroga em 1583.<ref>Henry Kamen, Inquisition and Society in Spain, p. 85.</ref> Seu pensamento sobre tiranicidio não condizia com a sociedade da época.<ref>Cooper, p. 101.</ref> Sua visão como demonologista só chegou à Espanha no século [[Século XVIII|XVIII]].<ref>Ankarloo and Henningsen (editors), ''Early Modern European Witchcraft'', p. 34.</ref>
 
Na Alemanha, o fato de Bodin rejeitar o modelo de Quatro Monarquias o fez impopular, já que, a Alemanha tinha investido no sacro imperador romano como quarto monarca.<ref>Breisach, p. 181.</ref> [[Gottfried Wilhelm Leibniz|Leibniz]] afirmou que o conceito de soberania de Bodin era apenas controle territorial.<ref>Patrick Riley, ''The Political Writings of Leibniz'' (1981), p. 27 and p. 117 note.</ref>
 
Ralegh, na Inglaterra concorda com o que o Bodin chama de paralelismo entre as coroas francesa e inglesa; já o historiador Roger Twysden, afirma que a monarquia inglesa não condiz om os conceitos de Bodin.<ref>Cooper, p. 109.</ref>
 
Jean também influenciou John Cowell em seu polêmico livro The Interpreter.<ref>G. R. Elton, ''Studies in Tudor and Stuart Politics and Government I''(1974), p. 268.</ref> Suas ideias sobre bruxaria inspiraram o caçador de bruxos Brian Darcy em 1580, que seguiu sugestões de Bodin para interrogar Úrsula Kemp.<ref>''Gibson, Marion. "Darcy, Brian". Oxford Dictionary of National Biography (online ed.). Oxford University Press.''</ref>
 
Bodin também influenciou o papado. Suas obras foram colocadas no ''[[Index Librorum Prohibitorum]]'' pela discussão contra o livre arbítrio e a razão de estado. O Methodus entrou pro ''Index'' em 1590<ref>Bouwsma, p. 305.</ref> e todo seu trabalho foi para lá em 1593,<ref>Bouwsma, p. 330.</ref> Theatrum continuou até o século XX.<ref>''Herbermann, Charles, ed.(1913). “Jean Bodin” in Catholic Encyclopedia New York''</ref> Além disso, Giovanni Amato descreveu teólogos venezianos como seguidores de [[Nicolau Maquiavel|Maquiavel]] e Bodin<ref>Bouwsma, p. 445.</ref> e Jacob Keller tratou Bodin como um sério inimigo a ideia de que só se pode resistir a um tirano passivamente.<ref>Harro Höpfl, ''Jesuit Political Thought: the Society of Jesus and the state, c. 1540-1630'' (2004), p. 332;</ref>
 
== Homenagens ==
Em consequência das suas contribuições, Bodin foi reconhecido pelos seus importantes estudos que contribuíram com o avanço de conceitos de soberania e absolutismo dos Estados; Jean Bodin recebeu algumas homenagens.
 
Na França, cinco ruas receberam o seu nome, elas se localizam nas cidades de [https://www.google.com/maps/place/Rue+Jean+Bodin,+49000+Angers,+Fran%C3%A7a/@47.463683,-0.5548669,17z/data=!3m1!4b1!4m5!3m4!1s0x480878be243a7ba5:0xbb1112d895da4a42!8m2!3d47.4641064!4d-0.5528952 Angers] e [https://www.google.com/maps/place/Rue+Jean+Bodin,+02000+Laon,+Fran%C3%A7a/@49.579863,3.6502723,17z/data=!3m1!4b1!4m5!3m4!1s0x47e9b4cf012c0a03:0x149ef3c19bdc6ec8!8m2!3d49.579863!4d3.652461 Laon], cidades onde Bodin nasceu e faleceu, respectivamente, além das cidades [https://www.google.com/maps/place/Rue+Jean+Bodin,+49240+Avrill%C3%A9,+Fran%C3%A7a/@47.5058525,-0.6089451,17z/data=!3m1!4b1!4m5!3m4!1s0x48087ef2c9a6da05:0x3705fba53ae2031d!8m2!3d47.5058525!4d-0.6067564 Avrillé], [https://www.google.com/maps/place/Rue+Jean+Bodin,+49300+Cholet,+Fran%C3%A7a/@47.055549,-0.8540746,17z/data=!3m1!4b1!4m5!3m4!1s0x4806442aac3c7a35:0xc751ab7e621f27bd!8m2!3d47.055549!4d-0.8518859 Cholet] e [https://www.google.com/maps/place/Rue+Jean+Bodin,+49130+Les+Ponts-de-C%C3%A9,+Fran%C3%A7a/@47.423703,-0.5260331,17z/data=!3m1!4b1!4m5!3m4!1s0x4807d7b6d16deb2d:0x342fd604cbc4f8ed!8m2!3d47.4237026!4d-0.5238112 Les Ponts-de-Cé].
 
Também na sua cidade natal, Angers, o Centro de pesquisa Política e Jurídica da Faculdade de Direito, Economia e Gestão da Universidade de Angers recebeu o nome de Bodin e passou a se chamar ''[http://centrejeanbodin.univ-angers.fr/fr/index.html Centre Jean Bodin].''
 
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== Bibliografia ==
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