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Contemporâneo de ''[[Nostradamus]]'' e [[Michel de Montaigne|Montaigne]], Jean Bodin nasceu em [[Angers]], no oeste da França, entre junho de 1529 e junho de 1530.<ref>Saillot, 1985, p. 112.</ref> Filho do rico comerciante e costureiro, Guillaume Bodin, com Catherine Dutertre, cujo pai era procurador do convento carmelita de Rene Dutertre Angers.<ref>Jacobsen, 2000, p. 40.</ref>
 
Sendo o quarto de uma família com sete filhos, Jean estudou em sua cidade natal e ainda novo foi viver no monastério Notre-Dame-des-Carmes.<ref name=":2" /> Em 1545, ele viajou para Paris para estudar filosofia com o carmelita Guillaume Prévost no Convento Carmelitas de Grand Paris. Grande amante das linguagens, ele aprendeu hebraico com Jean Mercierbe<ref>Lloyd, 2017, p. 7-8.</ref> e grego com [[Adrianus Turnebus]].
 
Em 1546 ele, provavelmente, viu a execução do humanista Etienne Dolet, condenado pela publicação de livros heréticos.<ref>Lloyd, 2017, p. 7.</ref> No ano seguinte ele é processado por heresia e é liberado de seus votos monásticos por conta da intervenção de Gabriel Bouvery, o Bispo de Angers.
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Jean Bodin se casou com Françoise Trouilliart em 25 de fevereiro de 1576. Françoise era uma viúva rica cujo irmão, Nicolas Trouillard, fazia parte do Ministério Público.<ref>Blair, 1997, p. 10.</ref>
 
O ano de 1576 foi importante para Bodin, que publicou nesse ano sua obra [[Six Livres de la République|''Os Seis Livros da República'',]] em que tentou restaurar as bases institucionais do reino Francês, cuja guerra em andamento ameaçava enfraquecer por causa, dentre outras razões, da doutrina dos reformadores sobre tirania.<ref name=":2" />
 
Em 1578, Bodin publicou ''Exposition of universal Law (juris),'' um pequeno livro metódico no qual sua teoria de direito universal completa sua visão de história universal que ele havia explorado em ''Methodus''.<ref name=":2" /> Publicou, então, uma reflexão sobre a essência do direito, ''Luris universi distributio'', que completa o arcabouço teórico iniciado com a ''República'': "Ao apresentar uma teoria jurídica e política do Estado, Bodin, indiretamente, faz uma contribuição essencial para a formação do direito internacional público contemporâneo”.<ref>Legohérel, 1999, p. 40.</ref>
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No ano de 1581, em uma viagem a Inglaterra para acompanhar o rei [[Francisco II de França|Francisco II]] da França na negociação de seu casamento com [[Isabel I de Inglaterra|Isabel I]],<ref>Couzinet, 1996 , p. 242.</ref> Jean descobriu que a [[Universidade de Cambridge]] usava seu livro ''Os seis livros da República'' e, pretendia traduzi-lo para ser mais acessível para estudantes estrangeiros.<ref>Maloy, 2017, p. 4.</ref> Dois anos depois, também acompanhando o rei [[Francisco II de França|Francisco II]], ele foi tomado como prisioneiro no ataque de Antuérpia, mas foi rapidamente liberado.
 
Com a morte de Francisco II (1584), ele se retirou para [[Laon]], tornou-se conselheiro do rei de Navarra ([[Henrique IV de França|Henrique IV]]) e, apenas três anos depois, tornou-se procurador da coroa.<ref>Blair, 1997, p. 11.</ref>
 
Além disso, foi acusado de heresia e teve sua casa invadida e seus livros queimados duas vezes, a primeira em 1587 e a segunda em 1590.
 
Jean Bodin morreu vitima de [[peste bubônica]] entre junho e setembro de 1596 em [[Laon]]. Ele teve um casal de filhos que morreram antes de atingirem a idade adulta. Nos seus últimos anos ele esteve ocupado com dois projetos: o primeiro se chama ''Colloquium of the seven about secrets of the sublime'' e trata da essência da religião. O segundo, ''Theater of Universal Nature'', aborda a filosofia natural.<ref name=":2" />
 
=== Religiosidade de Bodin ===
Durante sua juventude, Jean recebeu uma educação católica e foi fiel ao catolicismo durante toda sua vida, mas, apesar disso, ele era um crítico da Igreja. Ele defendia a ideia da "religião verdadeira", que seria olhar para Deus com um espírito purificado.
 
Apesar de fazer críticas também ao papa, não é certo considerar Bodin um [[Protestantismo|protestante]], como muitos biógrafos fizeram, porque ele não necessariamente apoiava os reformistas.<ref name=":2" />
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=== Estado e governo ===
Bodin, por rejeitar a mistura dos três modelos, acreditava que existia um problema causado pela confusão entre Estado e governo. Assim, determinou Estado como designação das três maneiras de organização que uma república pode ter, baseada no número de pessoas que detém o poder soberano, ou seja, monarquia, aristocracia e democracia. Já o governo carrega a função de indicar a maneira como o poder é exercido: legítimo, despótico ou tirânico.<ref name=":3" />.
[[Ficheiro:Préface République de Bodin.gif|miniaturadaimagem|409x409px|Prefácio: Os seis livros da república.]]
Bodin almejava uma forma perfeita de governo com a prosperidade material e formação intelectual que geraria um desenvolvimento espiritual dos súditos que, por fim, seria marcado por uma estrutura racional e absoluta. Sendo assim, desenvolvimento da república dependia da consolidação da ordem e da obediência das leis, pois um estado forte, baseados na ética judaico-cristã, necessitava de leis extremamente ordenadas e obedientemente seguidas. Portanto, uma sociedade cívica só existe quando todos os cidadãos são regidos pela mesma lei e, para a construção de um estado, é necessário o domínio de um soberano.<ref name=":4">Lenz, 2004.</ref>
 
Entre os poderes do soberano, legislar, mesmo sem a aprovação popular, seria o mais importante, porque os demais direitos são derivados deles, mas o poder pode ser delegado a magistraturas, desde que não haja uma transferência completa da tomada de decisões, e que todas passem pelo soberano. O príncipe, segundo o autor, ao exercer o governo, deve ser livre de cumprir as leis que estabeleceu, afinal ninguém pode ordenar a si mesmo. Também deve ser imune as leis de seus antecessores. Assim o soberano deve ter o poder de alterar as leis segundo a sua vontade.<ref name=":3" />
 
Apesar de ser soberano, o poder do príncipe não seria totalmente arbitrário e sem limites, estando constantemente sujeito as leis de Deus e da natureza, afinal são leis imutáveis, presentes em todos os povos. São essas leis que Bodin considerava fundamentais e deveriam permanecer acima de qualquer vontade particular, sem que nenhum líder político pudesse altera-las. Essas leis mantinham a sociedade longe do caos completo e, dentre elas, estava a lei Salica de sucessão do trono e a lei que proíbe a alienação dos domínios da coroa.<ref name=":3" />
 
O poder absoluto do soberano tinha limites segundo as leis que expressão a vontade de Deus, o bem da república e da soberania.<ref name=":3" />
 
Para Bodin, o monarca precisa alcançar, por meio da ordem, o estado eficiente que atende à três aspectos básicos: materiais, espirituais e mentais e, para alcançar tais aspectos, o soberano precisa ser absoluto e, também, manter a ordem no seu território. Além disso, o monarca jamais poderia ser combatido pelos seus próprios súditos.<ref name=":4" />
 
Bodin, portanto, visava à paz, à prosperidade, à formação cultural e espiritual em função da felicidade geral. Somente uma monarquia legítima faria um corpo único sólido e forte.<ref name=":4" />
 
== Os seis livros da república ==
[[Ficheiro:Les Six livres de la République.jpg|esquerda|miniaturadaimagem|349x349px|''Les Six Livres de la République'' - Jean Bodin]]
“Os“[[Six Livres de la République|Os Seis Livros da República”República]]” é uma das grandes obras de Jean Bodin, considerada como o primeiro tratado político sistemático da época.<ref name=":5" /> A obra foi escrita em meio às guerras de religião e pretendia resolver os impasses nas guerras civis e religiosas na França e, ao mesmo tempo, que fosse uma obra acessível.
 
Bodin publicou um dos últimos [[espelhos do príncipe]] visando assuntos a manutenção e organização da república em prol do desenvolvimento econômico do Estado. "Os Seis Livros da República" tratam da definição de conceitos e as funções da república, famílias, notoriedade, cidadão, estrangeiros; das formas de governo - monarquia, aristocracia e democracia; dos funcionários do governo hierárquico. Além do auge e decadência das repúblicas, demografia, riqueza e pobreza, caridade, punições, segurança, finanças e apologia à monarquia soberana.<ref name=":4" /> O autor explorou o conceito de república e o propósito desse sistema político com base na sua teoria a respeito da soberania. Além disso, também são tratados os temas da felicidade do homem entrelaçada à República; o estabelecimento de metas para a evolução do governo, evitando, assim, sua dissolução com o tempo.<ref name=":5">Bodin, 1576, p. 79.</ref>
 
Bodin também traz propostas da maneira de como tal sistema de governo deveria agir. Frente a situações de transgressão ou delinquência, o governo, “reto-governo”, não deve de forma alguma compactuar. ” O autor também exemplifica como a República deve lidar com os ladrões e transgressores, reconhecendo aqueles que após transgredirem a lei, entregam-se a justiça.<ref>Bodin, 1576, p. 71-72.</ref>
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A narrativa procedeu apontando as bases do funcionamento da República, mas não de uma forma utópica como, na visão de Jean Bodin, era a república de Platão, e sim, reconhecendo seus defeitos e seguir as regras políticas de forma mais rigorosa possível.<ref>Bodin, 1576, p. 74.</ref>
 
O autor também acrescentou finalidades da República defendida por ele, seus atributos e recursos:<blockquote>{{Quote|Pode-se também dizer, comparando o pequeno com o grande, que a República deve ter um território suficiente e um lugar adequado para seus habitantes, a fertilidade de um país suficientemente abundante e gado bastante para o alimento e a vestimenta de seus súditos; para mantê-los saudáveis, a brandura do céu, a temperatura do ar, a bondade das águas; para a defesa e abrigo do povo, os materiais próprios para construir casas e praças -fortes se o lugar em si não for suficientemente coberto e defensável. Eis as primeiras coisas das quais se tem maior necessidade em toda República; depois se buscam as comodidades, como os medicamentos, os metais, as tinturas; para sujeitar os inimigos e alongar as fronteiras por conquistas, armazena-se armas ofensiva.<ref>Bodin, 1576, p. 79.</ref></blockquote>}}
 
== Crítica à escravidão ==
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[[John Locke]] também se opunha ao Bodin, pois Locke, com olhar voltado ao passado, apontava [[Espártaco]] como responsável de uma agressão contra a propriedade privada e o poder legítimo,<ref name=":0" /> enquanto Bodin, décadas antes, afirmava ser nocivo permitir a escravidão, marcada por crueldades abomináveis que os senhores cometeram contra seus escravos.<ref name=":1" />
 
Bodin também abordou a reintrodução da escravidão que, na [[antiguidade]] clássica, o número de escravos era superior aos dos cidadãos livres que viviam constantemente em revoltas de escravos, como, por exemplo, aconteceu em Esparta o massacre de 30.000 mil hilotes em apenas uma noite. A escravidão, que deixou de ser aceita na Europa depois de 1250, estava retornando com a [[Colonização|expansão colonial]] ultramarina de forma renovada. Bodin atribui a volta da escravidão à ganância dos mercadores<ref name=":0" /> e acrescenta a necessidade dos príncipes colocarem ordem, caso contrário o mundo ficaria cheio de escravos em pouco tempo.<ref name=":1" />
 
== Legado ==
A concepção de soberania definida por Bodin foi notada em vários países da [[Europa]] e teve um papel importante no absolutismo enquanto simplificada e interpretada por juristas, entre outros.
 
Na França, teve seguidores como o jurista Pierre Grégoire<ref>Richard Tuck (1993), ''Philosophy and Government (1572–1651)'', p. 28;</ref> e sua ideia de Estado inspirou [[Pierre Charron]] em ''La Sagessede'' (1601).<ref>J. H. Elliott, ''Richelieu and Olivares'' (1991), p. 44</ref> Como demonologista é considerado autoritário, como historiador, é citado em ''Methode pour etudier l'Histoire'' de Nicolas Lenglet Du Fresnoy.<ref>Herbert Butterfield, ''Man and his Past'' (1969), p. 3.</ref>
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== Bibliografia ==
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* BARROS, Alberto Ribeiro G. (2009). Soberania e República em Jean Bodin. São Paulo: Discurso.
* BAUDRILLART, Henry "Bodin e seu tempo - as teorias econômicas e políticas de mesa e idéias para o século XVI" , Paris, Guillaumin 1853. Reemissão em 1964.
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* SENELLART, Michel. As artes de governar. Tradução de Paulo Neves.
* TURCHETTI, Mario, "Jean Bodin", The Stanford Encyclopedia of Philosophy (Fall 2018 Edition), Edward N. Zalta (ed.)
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[[Categoria:Juristas da França]]