Moluscos
Moluscos | |||||
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Ocorrência: Cambriano - Recente | |||||
Classificação científica | |||||
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Classes | |||||
Caudofoveata Aplacophora |
Os moluscos (Mollusca, do latim molluscus, mole) constituem um grande filo de animais invertebrados, marinhos, de água doce ou terrestres. O filo Mollusca é o segundo filo com a maior diversidade de espécies, depois dos Artrópodes, (cerca de 93 000 espécies viventes confirmadas[1] e até 200 000 espécies viventes estimadas[2], e 70 000 espécies fósseis[1]) e inclui uma variedade de animais muito familiares, como as ostras, as lulas, os polvos e os caramujos.
Estes animais têm um corpo mole e não-segmentado, muitas vezes dividido em cabeça (com os órgãos dos sentidos), um pé muscular e um manto que protege uma parte do corpo e que muitas vezes secreta uma concha. A maior parte dos moluscos são aquáticos, mas existem muitas formas terrestres como os caracóis.
Os moluscos são variados e diversos, muitos conhecidos pelas suas conchas decorativas ou como marisco. Variam entre pequenos caracóis, amêijoas, polvos e à lulas[3] (os dois últimos são considerados os invertebrados mais inteligentes).
Também possuem uma grande importância nas cadeias alimentares, sendo detritívoros, consumidores de microrganismos, predadores de grandes presas (peixes, vermes...), herbívoros (alimentando-se assim de algas e outras plantas) e filtradores (como as ostras e os mexilhões).
Possuem um sistema digestivo completo (da boca ao ânus). Os gastrópodes e os cefalópodes apresentam uma estrutura chamada rádula, formada por dentículos quitinosos que raspam o alimento. Os bivalves apresentam um estilete cristalino, responsável por colaborar na digestão ao libertar enzimas digestivas. O sistema circulatório é em geral aberto, com exceção dos cefalópodes, que exigem alta pressão por se locomoverem rapidamente.
Reprodução
Os moluscos têm reprodução sexuada, sendo que a maioria apresenta sexos separados, com exceção de alguns bivalves (ostras) e nudibrânquios (aplisia), que são animais hermafroditas. A fecundação pode ser externa, na qual o macho libera o espermatozoide e a fêmea o óvulo, na água, ou a reprodução interna na qual o espermatozoide é liberado no corpo da fêmea. Após a fecundação há a formação de uma larva livre-natante, mesmo no caso de animais sésseis como as ostras e mexilhões, que passa a integrar o plâncton, até que se fixe definitivamente.
Pé
O pé é uma das três partes básicas da anatomia dos moluscos, sendo a estrutura muscular mais desenvolvida daquele grupo taxonómico. Tem como funções básicas a locomoção, fixação, escavação, natação ou serve para capturar suas presas. Nos cefalópodes o pé está transformado em tentáculos[4]. Bivalves e escafópodes possuem pés elongados adaptados para penetração e fixação no substrato marinho. Sua estrutura cilíndrica é localizada na região anterior. Nos bivalves que habitam ambientes rochosos (como o mexilhão) no entanto, os pés são reduzidos e esses organismos utilizam filamentos bisso para sua fixação. Nos poliplacóforos o pé é localizado na região ventral do corpo e ocupa praticamente toda a região. É utilizado como estrutura adesiva que adere o animal no substrato rochoso e os permite suportar fortes correntes marítimas.[1]
Manto
O manto é algo característico dos moluscos, a parede do corpo sobre a massa visceral em sua parte dorsal é modificada formando o manto. A epiderme do manto secreta proteína, sais de cálcio, muco, sendo também sensorial. Nos gastrópodes terrestres as trocas gasosas são efetuadas pela região vascularizada do manto.
Importância
Os moluscos englobam uma grande variedade de recursos alimentares denominados frutos-do-mar. Ostras, mexilhões e outras variedades de moluscos são consumidos em diversos pratos típicos regionais. Os bivalves, por serem na maioria animais filtradores, são muito utilizados como indicadores ambientais, uma vez que acumulam substâncias tais como metais pesados. No Japão é grande o número de acidentes resultantes da contaminação de bivalves com toxinas paralisantes produzidas por dinoflagelados que constituem a chamada maré-vermelha. Em meados de 2015, um estudo científico comprovou que os dentes do molusco são o material biológico mais resistente do mundo, roubando o título ocupado pela teia de aranha.[5]
Curiosidades
A lula-gigante é possivelmente o maior invertebrado, mas nunca foi observada viva. A lula-colossal poderá ser ainda maior. Uma lula-colossal congelada, encontrada por pescadores, tinha aproximadamente catorze metros e pesava cerca de 450 quilos.
A biologia dos moluscos é estudada pela malacologia, mas as conchas - ainda do ponto de vista biológico, não do ponto de vista dos colecionadores - são estudadas pelos concologistas.
Evolução
O filo Mollusca é considerado monofilético, isto é, todos os indivíduos do grupo possuem um ancestral em comum. Entre algumas das características que são distintivas do grupo e sustentam seu monofiletismo estão: o manto, estrutura formada pela epiderme dorsal; rádula, dentículos quitinosos presentes no interior da cavidade oral; pé, músculos da região ventral especializados. Após isso os moluscos são divididos em duas linhagens, o clado Aculifera (Polyplacophora, Neomeniomorpha e Chaetodermomorpha) e o clado Conchifera (Monoplacophora, Scaphopoda, Cephalopoda, Bivalvia e Gastropoda).[6]
Descobertas recentes, seguidas de um estudo aprofundado, exigem hoje em dia uma revisão de conhecimentos adquiridos sobre a evolução dos moluscos. É o caso de um amplo conjunto de fósseis marinhos descobertos nas falésias de Peniche (Portugal). Entre eles destaca-se o fóssil intacto de um verme de 2 cm de comprimento, porventura clado dos moluscos e dos vertebrados, antepassado próximo de um cefalocordado, um peixe lanceta extinto, o elo perdido (the missing link) enquanto progenitor da Spriggina.[7][8][9][10]
Registro fóssil
Como são animais dotados de uma ou mais concha calcária são de fácil preservação e por isso são abundantes no registro fóssil. Os primeiros fósseis atribuídos aos moluscos são datados do Cambriano Superior do período que ficou conhecido como Tommotiano (570 a 560 milhões de anos atrás). Alguns exemplos de fósseis descobertos nesse período são os moluscos da família Hyolithellidae como Hyolitha. Outros aparecem no Cambriano Médio e Inferior como Triplicatella, Pelagiellida, Costipelagiella e Nectocaris. [11][12][13][14][15] Mais de 60 000 espécies de moluscos estão preservadas no registro fóssil.[1]
Classes
Existem dez classes de moluscos, oito que ainda vivem e duas que só são conhecidas através de fósseis.
- Polyplacophora (cabeça pequena, sem tentáculos nem olhos; 1 200 espécies);
- Monoplacophora (habitantes de fundos oceânicos; 15 espécies);
- Bivalvia (ostras, amêijoas, mexilhões, conquilhas, etc.; 800 espécies);
- Scaphopoda (concha carbonatada aberta dos dois lados; 512 espécies, todas marinhas);
- Gastropoda (corpo protegido por concha e cabeça bem definida; entre 40 000 e 50 000 espécies);
- Cephalopoda (lula, polvo, nautilus; 786 espécies, todas marinhas);
- Neomeniomorpha (não possui concha);
- Chaetodermomorpha (1– 30 mm; maioria habitante das regiões abissais; não possui concha);
Extintos:
- Rostroconchia (prováveis ancestrais dos bivalves;entre outros; cerca de 1 000 espécies);
- Helcionelloida (fósseis; parecidos com caracóis);
- Tentaculitoidea (fósseis; conchas cilíndricas).
- ↑ a b c d Brusca, R.C., and Brusca, G.J. (2003). Sinauer Associates, ed. Invertebrates 2 ed. [S.l.: s.n.] 731 páginas. ISBN 0878930973
- ↑ Winston F. Ponder and David R. Lindberg (2004). «Phylogeny of the Molluscs». World Congress of Malacology. Consultado em 9 de março de 2009
- ↑ «Lula jurássica desenhada com a própria tinta» (PDF). rcfilms.dotster.com - texto de Ricardo Costa sobre o património jurássico de Peniche
- ↑ «Moluscos (Mollusca)». www.infoescola.com.
- ↑ Webb, Jonathan (18 de Fevereiro de 2015). «Dente de molusco é material biológico 'mais resistente' que existe» (em inglês). BBC Brasil. Consultado em 27 de Fevereiro de 2016
- ↑ Smith, Stephen A.; Wilson, Nerida G.; Goetz, Freya E.; Feehery, Caitlin; Andrade, Sónia C. S.; Rouse, Greg W.; Giribet, Gonzalo; Dunn, Casey W. (26 de outubro de 2011). «Resolving the evolutionary relationships of molluscs with phylogenomic tools». Nature (em inglês). 480 (7377): 364–367. ISSN 0028-0836. doi:10.1038/nature10526
- ↑ «Spriggina | Wikiwand». Wikiwand (em inglês)
- ↑ «Fóssil de um verme marinho». SEAWORM.penichefossil.net com pelo menos 540 milhões de anos descoberto em Portugal juntamente com fósseis de polvo do Jurássico, na Península de Peniche (supostamente remonta ao período Ediacarano)
- ↑ (en, pt) «Fósseis de polvo» (PDF). rcfilms.dotster.com do Jurássico em («PENICHEFOSSIL». penichefossil.ne) – refere a deriva continental e o papel dos oceanos primordiais na evolução das espécies
- ↑ (en). Ver o vídeo Ediacaran Fauna Worms de «Walter Jahn». www.sunyorange.edu («Faculdade Suny Orange». Universidade de Nova Iorque
- ↑ MAZUREK, DAWID; ZATOŃ, MICHAŁ (7 de janeiro de 2011). «Is Nectocaris pteryx a cephalopod?». Lethaia (em inglês). 44 (1): 2–4. ISSN 0024-1164. doi:10.1111/j.1502-3931.2010.00253.x
- ↑ Fortey, R.A.; Briggs, D.E.G.; WILLS, M.A. (janeiro de 1996). «The Cambrian evolutionary 'explosion': decoupling cladogenesis from morphological disparity». Biological Journal of the Linnean Society (em inglês). 57 (1): 13–33. ISSN 0024-4066. doi:10.1111/j.1095-8312.1996.tb01693.x
- ↑ Morris, S. Conway (janeiro de 1993). «The fossil record and the early evolution of the Metazoa». Nature. 361 (6409): 219–225. ISSN 0028-0836. doi:10.1038/361219a0
- ↑ Skovsted, Christian B (abril de 2006). «Small shelly fossils from the basal Emigrant Formation (Cambrian, uppermost Dyeran Stage) of Split Mountain, Nevada». Canadian Journal of Earth Sciences. 43 (4): 487–496. ISSN 0008-4077. doi:10.1139/e05-119
- ↑ «Canadian Science Publishing». doi:10.1139/e04-066#.w6ca8tqrius
Bibliografia
RUPPERT, E. E.; BARNES, R. D.; e FOX, R. S. Zoologia dos Invertebrados. 7.ed., [s. l.]: Roca, 2005.
Ver também
- Anfioxo lanceolado (Peixe-lanceta)
Ligações externas