História do Pará
A história do Pará começa antes da chegada dos portugueses ao Brasil em 1500 e chega até os dias atuais.
Ocupação pré-cabralina
[editar | editar código-fonte]Os arqueólogos dividem os antigos habitantes da pré-história brasileira em três grupos, de acordo com o modo de vida e ferramentas. Assim, temos os povos: caçadores-coletores, do litoral e os agricultores. Estes grupos foram, posteriormente, denominados pelos colonizadores europeus como "índios" (povos indígenas).
Desde cerca de 12 mil a.C. a região da bacia amazônica já era habitada pelos caçadores-colectores.[1] Na região do atual estado do Pará, os registros arqueológicos comprovam a presença humana real no arquipélago do Marajó (inicialmente região Marinatambal[2]) e na região de Santarém (inicalmente aldeia de Tapajós[3]) em 3 mil a.C..[4][5] E por volta do ano 1000 a.C. a 1000 d.C. floresceram as sociedades complexas/ civilização (caracterizada basicamente por construção de comunidades fixas),[6][7][8] desde o Tapajós até a foz do rio Amazonas.[9] Estas sociedades se destacavam pelo alto nível de hierarquia social, produção de cerâmica, os corantes, compostos medicinais naturais, praticavam a coivara (queimadas para limpar a terra) e a agricultura (particularmente a plantação de mandioca).[10][5]
No Marajó, os agricultores habitavam em cabanas ou casas subterrâneas.[5] A mais conhecida cultura deste grupo é a cerâmica marajoara, que possui decoração e tamanho peculiares. O período de 500 a 1300 foi o auge da cultura marajoara.[11][4] A sociedade marajoara (termo global) subdividia-se em fases distintas de acordo com níveis de ocupação e desenvolvimento social: Ananatuba, Mangueiras, Formiga, Acauã,[12] Alta Marajoara e, Aruã.[13] Nas duas últimas, desenvolveu-se o que chama-se de civilização[6][7][8] chamada de Cacicados Amazônidas.[9] No período de 400 a 1400 d.C., principalmente na ilha do Marajó, essas sociedades indígenas levantavam suas casas sobre morros artificiais, estrutura elevada que protegia das inundações, chamados de teso.[14][15][16]
Ocupação portuguesa
[editar | editar código-fonte]Em 1500, o navegador e explorador espanhol Vicente Yañez Pinzón foi o primeiro europeu a passar pela foz do rio Amazonas no oceano Atlântico.[17] Seguido em 26 de agosto de 1542, pelo também espanhol Francisco de Orellana, que chegou também à foz do Amazonas por via fluvial partindo da cidade equatoriana Quito (Equador).[18] Em 28 de outubro de 1637, o português Pedro Teixeira partiu de Belém, foi até Quito e voltou: durante a expedição, ele fincou um marco de pedra na confluência dos rios Aguarico e Napo, na atual fronteira entre Equador e Peru, assegurando, para Portugal e, posteriormente, para o Brasil, a posse da maior parte da Amazônia, incluindo a totalidade do atual território paraense.[19]
A Capitania do Grão-Pará, ou apenas Pará, tem sua origem no contexto da conquista do rio das Amazonas e da Amazônia Oriental em 1580, período de conflito com forças estrangeiras que disputavam as drogas do sertão.[20] Primeiramente a região foi denominada com a terminologia "Conquista do Pará", também conhecida como "Império das Amazonas". contendo como "capital" o povoado colonial Feliz Lusitânia (em homenagem à Portugal).[21] O documento mais antigo que faz menção ao termo capitania, para denominar a região da conquista, é posterior ao ano de 1620. Por seguinte a legitimação do território como Capitania só ocorre em paralelo a criação do Estado do Maranhão, no ano de 1621.[22] Em 1639 o povoado Feliz Lusitânia foi elevado à categoria de município com denominação de "Santa Maria de Belém do Pará" ou "Nossa Senhora de Belém do Grão Pará". Posteriormente, em 1751, a cidade de Belém se torna a capital do Estado do Grão Pará e Maranhão.[20] Em 1774, com o fim do Estado do Grão Pará e Maranhão, a Capitania do Grão-Pará passa a integrar o Estado do Brasil, subordinada ao vice-rei do Brasil, com sede no Rio de Janeiro.
Nesta época o cacau nativo (caa cau ua) nascia abundantemente na mata de modo natural, que a partir de 1678, uma ordem régia informou que o cacau manso deveria oficialmente ser plantado na região.[23] O arroz silvestre (arroz vermelho) também nascia abundantemente, era usado no consumo interno (não adequado para exportação), também foram iniciadas plantações de arroz branco.[23] O Pará também foi pioneiro na plantação de café no Brasil, desde a década de 1720, usando sementes e mudas da cidade de Caiena, assim na década de 1730, ocorreu a primeira exportação desde produto para Lisboa, no navio Santa Maria, uma pequena amostra da qualidade.[23] Na década de 1750 a frota paraense levou à Lisboa um carregamento de 4 835 arrobas de café, pois havia sido cultivados mais de dezessete mil pés (porém a atividade foi encerrada na década de 1860).[23]
Alguns gêneros serviam como moeda de troca na exploração do trabalho e no comercio de mercadorias entre as cidades e as áreas rurais e aldeias; no século XVIII, o açúcar era a moeda de troca popular, junto com o cravo, cacau e o algodão.[23] Considerando o comércio com Portugal, na contabilidade anual a metrópole sempre devia à colônia, pois a importava mais gêneros do que exportava ao porto de Belém.[23] Assim durante muitos anos, a Capitania do Pará movimentou fortemente a economia de Portugal.[23]
Na década de 1780 ocorre a criação de pequenas indústrias: tecidos de algodão, cerâmicas e velas, manufatura de cordoalhas, manteiga de tartaruga e outras agriculturas como: tabaco, milho, mandioca, cacau, arroz, algodão, cana-de-açúcar e a pecuária no vale do rio Branco.[24] Em 1804, na cidade de Belém havia vários hortos com caneleiras plantadas na "Estrada das Caneleiras" (atual Avenida 16 de Novembro), com aproximadamente mil pés que forneciam de 200 arrobas ao ano.[23]
Em 1821 as Capitanias passam a ser denominadas de Províncias. No ano seguinte, 1822, é proclamada a independência do Reino do Brasil. O Grão-Pará vive um período de incerteza sobre se a Capitania permaneceria unida à Portugal, uniria-se ao Brasil ou se tornaria um país independente. Os paraenses criam, então, a 1ª Junta de Governo Independente. Eclodiram levantes das tropas fiéis a Portugal, conhecidos como "Guerras da Independência", envolveram as Províncias: Pará, Maranhão e Bahia. Em agosto de 1823 o Pará é finalmente integrado ao Brasil Independente.[25]
Língua geral setentrional e nheengatu
[editar | editar código-fonte]Através do Diretório de 1757 e do Alvará de 1758, o Marquês de Pombal proibiu o ensino formal da língua geral setentrional ou língua geral amazônica (na época a mais falada no Pará) nas escolas das ordens religiosas. Essa proibição do ensino da língua acelerou a transformação da língua geral setentrional no nheengatu. O nheengatu permaneceu como a língua mais falada no Pará até a seca de 1877, que levou, para a Amazônia, milhares de retirantes nordestinos falantes da língua portuguesa.[26]
Cabanagem
[editar | editar código-fonte]A Cabanagem, ou Guerra dos Cabanos, foi uma revolta popular e social que ocorreu na então Província do Grão-Pará entre 1835 e 1840,[27] durante a regência de Diogo Antônio Feijó no Império do Brasil,[28] influenciada pela Revolução Francesa,[29] tendo como líderes Félix Clemente Malcher, Antonio Vinagre, Francisco Pedro Vinagre, Eduardo Angelim e Vicente Ferreira de Paula.[27][30] A revolta foi motivada pela extrema pobreza, fome e doenças que afetavam a população local,[31] além do isolamento político e da forte influência portuguesa na região após a independência do Brasil em 1822,[32] uma vez que o Pará aderiu à independência apenas em 1823.[33][34][29]
Ciclo da borracha
[editar | editar código-fonte]Primeiro ciclo
[editar | editar código-fonte]O Pará apresenta uma economia sem relevância até cerca de 1880 no contexto da então Província do Grão-Pará (1821–1889), quando iniciou o ciclo da borracha, período que muitos imigrantes, principalmente da Região Nordeste do Brasil (seca de 1877), chegaram na região para trabalharem na extração do látex em latifúndios pertencentes à elite da capital, Belém. Durante quase quarenta anos, Belém do Pará foi a residência de "barões da borracha", sendo construída, na cidade, uma réplica de Paris pelo então prefeito Antônio Lemos: uma reforma urbana invejável até por Rio de Janeiro e São Paulo. A província tornou-se estado com a proclamação da República do Brasil, em 15 de novembro de 1889. Na década de 1910, termina o ciclo da borracha, voltando o Pará à pobreza e passando a ser apenas um mero fornecedor de matérias-primas para o sudeste brasileiro.
Segundo ciclo
[editar | editar código-fonte]Na Segunda Guerra Mundial, pelas mãos de Getúlio Vargas, foi criado o Banco de Crédito da Borracha para incentivar a retomada da extração de látex para a exportação, com a demanda dos Estados Unidos, o que ficou conhecido como o Segundo Ciclo da Borracha. Na mesma época, o governo estadunidense, interessado na localização estratégica de Belém, implanta importantes obras na capital, como o aeroporto, a vila militar e o Grande Hotel. Porém o segundo ciclo não tarda a findar: com a rendição do Japão, cessam os interesses militares dos Estados Unidos, são liberadas as colónias produtoras de borracha na Ásia, perdendo novamente a preferência pela borracha amazônica, sendo o Pará renegado outra vez à pobreza: intensifica-se o papel de fornecedor de matérias-primas para a crescente indústria da Região Sudeste do Brasil.
Redescoberta nos anos 1950/1960
[editar | editar código-fonte]Por volta de 1960, o Pará foi "redescoberto": o presidente Juscelino Kubitschek construiu Brasília e, paralelamente, construiu rodovias radiais ligando diversas regiões do país à nova capital, sendo a rodovia Belém-Brasília uma delas. Mudou a temática de transportes no Pará e na Amazônia, que era quase completamente fluvial, passando a ser rodoviarista. Essa estrada facilitou o escoamento de produtos e pessoas em direção ao Distrito Federal e ao resto da nação.
Colonização do sudeste paraense e a mineração em Carajás
[editar | editar código-fonte]Nos governos militares, foi propagandeada uma concepção de que a região Amazônica possuía um solo extremamente fértil (tese recentemente derrubada), sendo chamada de o "vazio demográfico", que deveria ser devastada e ocupada para produção agricola, ser o "celeiro agrícola da nação", para garantir a posse das terras ao Brasil e para amenizar conflitos por terras em outras regiões, com o lema "terras sem homens para homens sem terra".
Paralelamente, foram realizadas prospecções minerais no Sudeste do Pará (região que tem Marabá como cidade-polo), responsáveis por descobrirem as Reservas de Carajás: gigantescas reservas mineralógicas que deveriam ser exploradas.
Foi realizado um grande plano de colonização das terras que margeavam as estradas, na linha entre Belém e Brasília (Sudeste do Pará), onde foram implantadas agrovilas e rurópoles. Muitos migrantes foram atraídos, principalmente do Nordeste e do Sul do Brasil, porém fracassaram os planos de assentamento: os colonos abandonaram seus lotes e mudaram-se para as maiores cidades do Sudeste Paraense, ocasionando inchaço populacional, grilagem de terras, constituição de latifúndios, devastação, desterritorialização de populações tradicionais e corrida pelo ouro em Serra Pelada. O que foi um clima extremamente propício para que o Sudeste Paraense se tornasse um local desflorestado, dominado por uma elite agrária, muito produtivo (de bens primários) e principalmente extremamente violento. Antes dos planos de colonização, o Pará tinha cerca de 80 municípios: agora são 143 municípios, quase todos criados no Sudeste do estado.
Nessa época (década de 1980), houve a construção da Usina Hidrelétrica de Tucuruí, que é a maior hidrelétrica 100% brasileira e que faz parte do plano de crescimento econômico da região: ela foi inaugurada pelo presidente João Figueiredo, servindo principalmente como fornecedora de energia a baixo custo para os grandes projetos minerais e secundariamente para a população comum do estado.
Atualidade
[editar | editar código-fonte]O estado do Pará é a maior reserva mineralógica do mundo: onde atualmente a economia é baseada na exploração mineral, com 75% de todas as exportações paraenses sendo minério, principalmente com origem nas reservas da região de Carajás; tem-se 13% de madeira de origem principalmente no Sudeste Paraense; 10% de outros produtos (como a energia elétrica da hidroelétrica de Tucuruí), e; 2% de pimenta.[35]
A capital paraense, Belém, é uma metrópole comparável a Belo Horizonte, Porto Alegre e, Brasília, com vôos diretos para a Europa, Miami e Caribe sem conexão em outras regiões brasileiras.[35] Possuindo uma infraestrutura urbana herdada do Ciclo da Borracha, onde ocorrem frequentes booms imobiliários promovidos por grandes construtoras; a indústria estadual ainda fraca, sendo baseada na siderurgia para exportação, o setor primário de mineração e agropecuária é concentrada na região Sudeste do estado, sua rede de transportes valoriza o rodoviarismo, com pouco uso do fluviarismo, sendo este o maior potencial viário da Amazônia.[35]
Divisão territorial
[editar | editar código-fonte]O Estado pode ser dividido basicamente em três grandes áreas:[35]
1. Nordeste Paraense: a menor região em território, com cerca de 22% do estado, onde estão situados os menores municípios do Pará em cobertura territorial e a capital do estado, que também é sua cidade-sede, é a décima maior cidade brasileira em número de habitantes,[35] com uma população de 1 303.389 conforme Censo de 2022,[36] é a região mais populosa, onde a população é "tradicionalmente paraense" (origem luso-indígena).[35] A região com a melhor qualidade de vida, que possui uma grande malha viária, maior presença do poder público, há pouca concentração fundiária, melhor infraestrutura para o turismo e, especializada no setor terciário de serviços e comércio. É dominada por uma elite ligada aos setores de comunicação, construção civil e supermercadista.[35]
2. Sudeste Paraense: região que mais gera riquezas ao estado, tendo Marabá como cidade-sede cobrindo cerca de 25%, com um grande parque agromineral voltado para a exportação, é onde estão situadas as Reservas de Carajás e o maior número de latifúndios, a região do Bico do Papagaio tem a maior concentração de conflitos fundiários no Brasil. Onde apenas 20% da população é paraense, a região não para de receber migrantes, principalmente nordestinos empobrecidos devido à seca, visando a empregos simples, e fazendeiros sulistas emergentes visando à aquisição de terras para o agronegócio. Existe a previsão que serão mais um milhão nos próximos três anos, uma situação preocupante. Ainda com muitos conflitos no campo e dominada por uma elite aristocrática ligada a terra, essa região está quase toda devastada. Possui 1,3 milhões de habitantes e 14 milhões de cabeças de gado: mais de 10 cabeças de gado per capita.
3. Oeste do Pará: compreende mais da metade de todo o Estado, é a região menos povoada e menos populosa, que menos gera riqueza, onde a floresta amazônica está melhor preservada. Esta região compreende o centro, o sudoeste, o oeste e o noroeste do Pará, tem Santarém como cidade-polo. Tendo sua população tradicionalmente de paraenses, a região vem sofrendo recente crescimento econômico com o escoamento de soja produzida no Mato Grosso (maior produtor sojeiro do planeta) através da hidrovia Tapajós-Teles Pires e da rodovia Santarém-Cuiabá, o produto é transportado até o porto de Santarém, onde é embarcado diretamente para a exportação internacional. 5% de toda a soja exportada por Santarém já é de produção própria. A região é dominada por uma elite de comerciantes e de fazendeiros tradicionais e possui os maiores e menos habitados municípios do Pará, em extensão territorial, entre eles Altamira, que é o maior município do mundo.
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