Essa pequena obra-prima pode não ser gráfica como A História do Olho, mas sem dúvida tem toda a sofisticação psicanalítica de uma ode e tratado sobre Essa pequena obra-prima pode não ser gráfica como A História do Olho, mas sem dúvida tem toda a sofisticação psicanalítica de uma ode e tratado sobre o desejo. A marca dessa prosa não é uma satisfação possível e sim o desejo irrefreável dos apaixonados, uma eterna espera em ser consumido por um prazer que não cessa e que queremos obsessivamente sempre mais e nunca será o suficiente. Na primeira metade do livro não estava dando muita coisa por ele, mas vê-lo como um todo mostra o quanto é uma brilhante prosa filosófica sobre o desejo....more
O falo em Lacan não é o pênis, o falo em Lacan é o poder. Portanto quando a autora afirma no título do livro e num dos seus poemas "Eu falo" ela próprO falo em Lacan não é o pênis, o falo em Lacan é o poder. Portanto quando a autora afirma no título do livro e num dos seus poemas "Eu falo" ela própria se torna falo, tanto no poder sobre si quanto da própria linguagem. É exatamente isso que vemos em seus poemas, um domínio da eroticidade da linguagem, de sua dualidade, reverte o cânone patriarcal e toma pra si a narrativa do falo também enquanto pênis e o quanto os homens ainda confundem uma coisa com a outra. Alice Queiroz mostra, acima de tudo, que as mulheres também têm o falo. Plus: A autora não sabe, mas seu livro chegou a tempo do meu aniversário de 43 anos e isso que chamo de presentaço....more
Pesquisei literatura obscena por anos, então fica claro que o modo de satirização política de minha preferência é a escrita bandalha, são séculos da fPesquisei literatura obscena por anos, então fica claro que o modo de satirização política de minha preferência é a escrita bandalha, são séculos da fina flor satírica povoando o imaginário pela via dos poderosos. Portanto, não via a hora da dinastia bolsolixo acabar para finalmente rirmos dos disparates que infelizmente presenciamos e nada, nenhum outro tipo de literatura seria capaz de mensurar o que passamos do que a literatura obscena, já que o que vivenciamos foi a obscenidade em estado lato. Fico que feliz pelo know-how que a Bruna Kalil Othero demonstrou ao escrever esse livro, um exemplar que não deve nada aos grandes escritores de satirização política obscena do século XVII e XVIII, digo mais, pudera eu ter escrito esse livro do que até sinto uma pontinha de inveja. Como infelizmente estamos num país profundamente ignorante, andei lendo uns comentários bem burros sobre o livro (chamar essas coisas de resenha é um acinte), abissalmente rasos que só dizem mais de quem os fazem do que da verdadeira natureza do livro da Bruna. No mais, se eu fosse do métier procuraria a Bruna agora mesmo para roteirizar e filmar O Presidente Pornô, porque infelizmente tá faltando cinema bandalheiro como fina sátira social desde o Collor acabou com o cinema brasileiro como indústria. ...more
Carnaval para quem é de carnaval, poesia para quem é de poesia. Durante os anos 2010 pesquisei muito a literatura erótica e obscena, mas esse livro impCarnaval para quem é de carnaval, poesia para quem é de poesia. Durante os anos 2010 pesquisei muito a literatura erótica e obscena, mas esse livro imprescindível da Maria Teresa Horta só me chegou em mãos esse fim de semana. Lembrando que tanto a literatura erótica quanto a obscena comungam com Eros, a vitalidade pulsional, mas a obscena se apresenta como chiste para além disso. Maria Teresa Horta neste livro é a pura sorvência sexual, escorre libido por cada palavra, é o erotismo battailiano em essência (o da sua teoria, já que na literatura ele era obsceno), é o erotismo do Eros sem a conspurcação cômica do chiste. Muito feliz fiquei com a dupla epígrafe citando tanto Hilst quanto Cixous, Hilst em sua prosa provou que foi a rainha da obscenidade (gente, é pra rir da trilogia obscena e não se escandalizar), mas na sua poesia ela levava o Eros bem a sério. Conhecia outros livros de poemas da Horta, mas este desde já se tornou o meu trabalho favorito dela....more
É muito difícil haver uma coesão de qualidade numa antologia com dezenas de poetas, ainda mais variando os temas entre o pornográfico, o obsceno e o eÉ muito difícil haver uma coesão de qualidade numa antologia com dezenas de poetas, ainda mais variando os temas entre o pornográfico, o obsceno e o erótico, mas este livro não só consegue isso como também preenche uma lacuna que é justamente reunir o fescenino contemporâneo em um só livro, algo que a editoração brasileira estava precisando. Passei os últimos anos tendo a literatura obscena como meu objeto de estudo acadêmico e esse livro chega num momento mais do que necessário para o fechamento da minha pesquisa e não poderia estar mais feliz pela escolha precisa de poemas e autores. O único porém que encontrei nesse livro diz respeito à editoração, ele é apresentado em ordem alfabética pelos nomes dos autores, mas estes só constam num índice ao final do livro e não com nomes em seus respectivos poemas, o que deixa a leitura um tanto confusa, claro que alguns poemas eu já conhecia e por isso sabia quem era o autor, ou até mesmo os que não conhecia, mas reconheci o estilo do poeta, mas mesmo assim é meio incoveniente não ter o nome do autor junto ao poema. E, como usual, escolho o poema que mais me saltou aos olhos dentro do livro todo:
Salmo de Marcelo Ariel
Faz de mim uma gota de porra descendo por tua bunda até se misturar com teu cheiro com o doce cheiro do seu cu doce e amargo Põe minha língua como um selo , como um selo no teu grelo Pois forte como a Morte é o teu desejo, divino que guia as estocadas dos meus dardos de fogo; chama sobre chama… Que Águas antediluvianas não conseguem extinguir ardor sobre furor mais forte que a eternidade dos mortos. Sagrada é minha flecha de fogo, entrando e saindo da tua cona...more
Antes dessas reedições da Companhia das Letras e demais editoras que ficaram com os direitos que foram da editora Globo eu já havia lido a obra compleAntes dessas reedições da Companhia das Letras e demais editoras que ficaram com os direitos que foram da editora Globo eu já havia lido a obra completa de Hilst e a entronado na santíssima trindade da literatura brasileira, ao lado de Machado de Assis e Guimarães Rosa. Por questões de pesquisa acadêmica pude agora reler sua prosa bombástica com um olhar mais orientado e crítico só para reiterar o que já havia fico evidente na primeira leitura: Hilda é um gênio maior de nossa literatura, tanto na prosa quanto na poesia....more
Em O que é Erotismo Castello Branco faz um belo apanhado colocando o erotismo numa situação de sentidos abrangentes em relação à sexualidade primeiramEm O que é Erotismo Castello Branco faz um belo apanhado colocando o erotismo numa situação de sentidos abrangentes em relação à sexualidade primeiramente diferenciando-o da pornografia, esta que estaria no âmbito capitalista e falocrático como comercialização do sexo da forma que teoricamente se crê o sexo numa sociedade patriarcal. Adiante Castello Branco diferencia o erotismo por uma série de teorizações passando pelo Eros/Tanatos freudiano que foi potencializado por Bataille, a questão repressiva colocada por Reich, Marcuse e Foucault, além de ver a literatura como reflexo de sexualidade de seu tempo (o cientificismo normativo do naturalismo, a ode contra a hipocrisia da sexualidade satírica)....more
O primeiro livro da compilação é O Que é Amor da Betty Milan, onde esta trata da paixão como fonte narcísica usando extensos exemplos de toda a histórO primeiro livro da compilação é O Que é Amor da Betty Milan, onde esta trata da paixão como fonte narcísica usando extensos exemplos de toda a história da literatura, como psicanalista sua escrita reflete isso de forma bastante poética. Em O que é Erotismo Castello Branco faz um belo apanhado colocando o erotismo numa situação de sentidos abrangentes em relação à sexualidade primeiramente diferenciando-o da pornografia, esta que estaria no âmbito capitalista e falocrático como comercialização do sexo da forma que teoricamente se crê o sexo numa sociedade patriarcal. Adiante Castello Branco diferencia o erotismo por uma série de teorizações passando pelo Eros/Tanatos freudiano que foi potencializado por Bataille, a questão repressiva colocada por Reich, Marcuse e Foucault, além de ver a literatura como reflexo de sexualidade de seu tempo (o cientificismo normativo do naturalismo, a ode contra a hipocrisia da sexualidade satírica). Como tudo que a Eliane Robert de Moraes faz O que é Pornografia também é excelente. Delineia-se as diferenças entre os discursos sobre pornografia dos libertinos (os capitalistas que se beneficiam do sexo no patriarcado), os moralistas (aqueles que veem o sexo como interdito) e os libertários (aqueles que querem um erotismo sadio ao mesmo tempo que condenam a indústria da pornografia). Além disso as autoras fazem um belo apanhado sobre literatura considerada pornográfica ao redor do mundo e como se deu a pornografia no contexto do século XX no Brasil (fazendo um apanhado do cinema, do teatro, da literatura e da televisão nas últimas décadas)....more
A ideia e os poemas são muito bons, mas também não há como negar que Louys viu a personagem sob uma óptica patriarcal não-sáfica, o que soa como brochA ideia e os poemas são muito bons, mas também não há como negar que Louys viu a personagem sob uma óptica patriarcal não-sáfica, o que soa como brochante em geral.
Curiosidade: Certamente Chico Buarque leu a Bilitis antes de escrever Teresinha, o poema Canção do livro Bilitis de Pierre Louys já que foi aparentemente estruturada a partir dele. ...more
