Não faço segredo que permeiei minhas predileções por poesia confessional desde minha tenra idade, foi esse tipo de poesia que abriu o meu olhar para oNão faço segredo que permeiei minhas predileções por poesia confessional desde minha tenra idade, foi esse tipo de poesia que abriu o meu olhar para o gênero poético e para a própria condição feminina já que ainda hoje acho que os melhores poetas confessionais são as mulheres. Tenho diversos livros teóricos sobre assexualidade, mas nunca tinha lido nenhum sob a perspectiva literária da poesia (se não contarmos que talvez muitas das escritoras do passado pudessem estar no espectro assexual, tal como Emily Dickinson), mas Todo mundo gosta de sexo - Eu nunca fui todo mundo da Maya Falks é o primeiro que leio de uma autora assumidamente assexual. E ela vai fundo no confessional, confissões que a dilaceraram e cujo despedaçamento faz com que a sintamos em primeira pessoa, é um amalgamar-se com a dor do outro que só é possível na melhor da poesia confessional, é uma fruição sentida, doída, devastante, mas sobretudo esclarecedora do quanto a psique profunda é capaz....more
Minha poeta brasileira favorita é a Hilda Hilst, mas eu tenho um bode tremendo dos poemas de amor dela porque são heteronormativos e não acho que dê pMinha poeta brasileira favorita é a Hilda Hilst, mas eu tenho um bode tremendo dos poemas de amor dela porque são heteronormativos e não acho que dê para encontrar beleza num amor hetero desigual dentro do patriarcado. Por isso só consigo encontrar beleza no amor entre iguais que colocam o mesmo peso de si na relação. Não por acaso as minhas três poetas norte-americanas favoritas são lésbicas: Audre Lorde, Adrienne Rich e Emily Dickinson, das quais a última não era assumida. Há historiadores ainda com a conversinha de "roommates" em relação à Dickson, clamando que seus poemas de amor eram sobre amizade, pois teoricamente as amizades no séculos XIX estimulavam tal passionalidade. Sei. A verdade é que os poemas de amor escolhidos para essa edição da Caligari são puro demonstrativo de paixão homoafetiva, platônica ou não, é inegável que havia a paixão dessa mulher por Sue, negar isso é negar a própria essência dos poemas. Belíssima curadoria, belíssimos poemas, belíssimo amor.
Noite do fondue de queijo, vinho e poesia. Recentemente traduzido pelo Círculo de poemas (onde estou com a cabeça que ainda não assinei isso?), JerichNoite do fondue de queijo, vinho e poesia. Recentemente traduzido pelo Círculo de poemas (onde estou com a cabeça que ainda não assinei isso?), Jericho Brown nesse livro em específico me lembrou do arrebatamento que senti ao ler a poesia negra queer da Audre Lorde pela primeira vez. Certo, talvez eu esteja exagerando já que Audre Lorde é uma das minhas poetas favoritas da vida, mas certamente a partir de hoje estarei de olho na poesia de Brown. ...more
Se Rita Lee era Santa Rita de Sampa, Roberto Piva é o Exu Paulistano. Talvez Piva é o poeta brasileiro com o qual mais me identifique e meu segundo favSe Rita Lee era Santa Rita de Sampa, Roberto Piva é o Exu Paulistano. Talvez Piva é o poeta brasileiro com o qual mais me identifique e meu segundo favorito aqui da terrinha (perde pra Hilda Hilst), relendo essa edição de sua poesia completa da Companhia das Letras isso fica ainda mais evidente. Comprei essa edição por praticidade de ser volume único (acaso eu queira levar em viagens), porque não tem muita coisa nova em relação à trilogia de livros lançada pela Editora Globo em fins dos 2000. Tem um texto novo do Claudio Willer, uma nova introdução do Alcir Pecora, e 14 poemas do Piva que podem ou não estar "acabados". Enfim, Piva sempre foi e será uma força retumbante com seu surrealismo beatnik, sua pulsão carnal, seu anarquismo na literatura e na vida.
Plus: Enquanto eu estava terminando de ler na praça um senhor se aproximou me pedindo pra comprar seu livro, dei uma olhada na capa e espontaneamente dei uma gargalhada. Estava eu vestida com uma camiseta com a sweet transvestite Frank N. Furter estampada e lendo o maior poeta queer do país e o cara me oferece um livro chamado O Baile dos Machões. Quem conhece os homens da minha cidade sabe que esse título não é irônico, depois me senti mal por ter rido na cara dele, mas havia claros sinais que talvez seu livro não fosse a minha praia. Rá! ...more
Esse livro funciona muito para pesquisador de literatura homoerotica, é uma mão na roda você ter um livro já todo pinçado da poesia latina, mas para qEsse livro funciona muito para pesquisador de literatura homoerotica, é uma mão na roda você ter um livro já todo pinçado da poesia latina, mas para quem tá lendo por prazer é meio chato essa fragmentação, compensa mais a gente ler os livros completos lançados pela Autêntica. Mas enfim, me lembrei da Hildinha Hilst enquanto lia, ela amava literatura latina e alguns de seus favoritos estão presentes aqui. Da seleção que consta no livro meu favorito foi o Marcial, tudo muito homoerotico pra lá, homoafetivo pra cá, mas eu gosto da bandalheira e o único efetivamente obsceno aqui era o Marcial....more
Quando comprei o The Collected Poems of Audre Lorde há alguns anos imediatamente ela se tornou uma das minhas poetas favoritas da vida, por isso acabeQuando comprei o The Collected Poems of Audre Lorde há alguns anos imediatamente ela se tornou uma das minhas poetas favoritas da vida, por isso acabei não comprando essa edição com uma coletânea de seus poemas quando finalmente saiu no Brasil, mas como aconteceu com a edição brasileira do Langston Hughes, fiquei intrigada em conhecer o trabalho na tradução das maravilhosas Tatiana Nascimento e Valéria Lima, com revisão de Jess Oliveira. Essa edição da Bazar do Tempo é bilíngue, ou seja, quem ainda não tem o inglês aprimorado pode se valer da ótima tradução e quem já o sabe pode também ver também a essência do que foi feito no idioma próprio....more
Na minha última aula na especialização sobre filosofia de mulheres alguém comentou que nos povos em que as mulheres são associadas com a água a igualdNa minha última aula na especialização sobre filosofia de mulheres alguém comentou que nos povos em que as mulheres são associadas com a água a igualdade de gênero é mais presente. Lendo essa maravilhosa obra de Natalie Diaz a epifania se fez presente no seu constante tratar do corpo, um corpo em forma de rio, um corpo fluído não binário. O que nos leva a outro momento de um dos seus poemas que nos traz o poder da linguagem em tradução, uma linguagem que não está nem cá nem lá, não é a língua original, mas tampouco é a língua outra, a tradução é por si só uma fluidez não binária, um riocorrente, riverrun. Esse livro saiu no Brasil pela Fósforo, não sei se na tradução eu teria todas as epifanias que tive o lendo no original, já que se faz uma língua outra e por isso mesmo a manifestação inconsciente se dá em um novo formato, só sei que foi uma experiência intensa e inesquecível. ...more
A Virginie Despentes tem um efeito bem curioso sobre a gente, começamos achando ruim, depois bom, depois muito bom, depois péssimo e alternando todas A Virginie Despentes tem um efeito bem curioso sobre a gente, começamos achando ruim, depois bom, depois muito bom, depois péssimo e alternando todas essas sensações, tanto no seu cinema quanto nos livros. Acho que a única obra dela que consegui gostar 100% de cabo a rabo foi Teoria King Kong, mesmo com essas oscilação sou bem fã dela, acho sua crueza muito bem vinda tanto no cinema quanto na literatura e em Apocalipse Bebê ela expõe com maestria a cloaca que esse mundo é. ...more
Comecei a ler esse no Fórum de Campinas embora já estivesse na minha estante desde o ano passado, mas o livro é tão bom e fundamental que me adiantei Comecei a ler esse no Fórum de Campinas embora já estivesse na minha estante desde o ano passado, mas o livro é tão bom e fundamental que me adiantei na leitura e a única coisa que posso dizer que ele é leitura imprescindível a todos os psicanalistas contemporâneos. IMPRESCINDÍVEL. Escolhi Lacan porque ele me parecia o menos reacionário dentro da psicanálise, embora para meus padrões ele me parece ainda bastante reacionário (hahaha) e a gente sabe que muito da psicanálise contemporânea ainda exala um cheiro de mofo (taí Preciado que não me deixa mentir), por isso temos que nos ater a esses jovens psicanalistas brilhantes como o Pedro Ambra que coloca os pingos nos is da questão trans dentro da psicanálise. Sério, esse livro deveria ser best seller, não sei porque não estamos todos o comentando à exaustão. ...more
Estava procurando literatura queer infantil e me deparei com esse livrinho que mostra a transição de Jazz Jennings ainda na infância. Confesso que nãoEstava procurando literatura queer infantil e me deparei com esse livrinho que mostra a transição de Jazz Jennings ainda na infância. Confesso que não tinha ouvido falar dela até agora, mas ela já tem 22 anos, transicionou na infância e é considerada a pessoa mais jovem a o fazer documentadamente ainda em 2005 na idade de cinco anos, para isso ela contou com profissionais e pais compreensivos. Soube também que ela tem uma série reality desde 2015 e mostrou todo seu processo de adolescência e entrada na fase adulta, sua cirurgia de afirmação de gênero e a compulsão alimentar. Recentemente esse livrinho foi banido na Flórida (always) como sendo infantil, mas não podendo ser lido por crianças nas escolas, o que não quer dizer que não podemos achá-lo facilmente na Internet, hehehe Talvez o livrinho deixe parecer que a transição seja mais fácil do que de fato é, é bem otimista, mas sem dúvida é um deleite para outras crianças trans que se enxergam na protagonista. Happy #pride!...more
Wittig, onde estiveste por toda a minha vida? Um artigo brilhante atrás do outro consta nesse livro, curiosamente um dos mais sem sal é justamente o arWittig, onde estiveste por toda a minha vida? Um artigo brilhante atrás do outro consta nesse livro, curiosamente um dos mais sem sal é justamente o artigo-título do livro, é óbvio que os que mais gostei são os relativos à literatura e linguagem sob perspectiva de gênero. Sei não, acho que vaisair um artiguinho científico meu das considerações que tive ao ler esse livro....more
Estava namorando esse livro desde que foi lançado no Brasil pela Tusquets, aí no fim do ano soube que sairia uma edição pela TAG e resolvi esperar, umEstava namorando esse livro desde que foi lançado no Brasil pela Tusquets, aí no fim do ano soube que sairia uma edição pela TAG e resolvi esperar, uma espera que se não valeu a pena por ter me apartado de um grande livro por mais tempo, ao menos me rendeu uma bonita edição física. A gente vai achando que é uma autobiografia (e é), mas também dá de cara com uma prosa poética envolta em realismo mágico difícil de esquecer, como a própria autora não esconde suas influências, é uma mistura de Garcia Marquez com Marguerite Duras - o que de cara já me faria cair de joelhos pelo estilo. Mas a potência não está só na maneira que Villada escreve e sim também no que escreve, a dureza da prostituição travesti, uma vida duplamente estigmatizada, uma vida cheia de misoginia e transfobia amparada por clientes que pensam exatamente que "elas são fáceis porque são pobres" achando que a vida delas não valem absolutamente nada. Pode parecer que a prosa poética da Villada alivia as coisas, mas o que é contado é cruel demais para se perder dentro da beleza de suas palavras, é ainda pujante no horror do ser humano...more
Escrito pelo mezzo mexicano, mezzo peruano Mario Bellatin, Salão de Beleza é um dos livros a serem tratados no curso que estou fazendo sobre literaturEscrito pelo mezzo mexicano, mezzo peruano Mario Bellatin, Salão de Beleza é um dos livros a serem tratados no curso que estou fazendo sobre literatura pandêmica e será o assunto da aula da próxima terça. Não vou dizer que é um livro fácil de ser lido, é curtinho, entre um conto longo e novela, mas de modo algum rapidíssimo porque o clima pesado e a crueldade presente nele são bem difíceis de deglutir, a dificuldade dele não reside na linguagem de como está descrito e sim no quê está descrito. Não há nenhuma menção ao HIV ou AIDS durante a narrativa, mas tudo é bastante claro quanto ao que se refere à pandemia que mais era discutida em 1994, ano de seu lançamento. É um livro que indico com veemência, mas que se saiba que vai ser uma leitura difícil e bem longe do clima de uma tarde de domingo ensolarado....more
Não vou mentir, Confissões de uma máscara de Mishima é de fato um grande livro, mas acabou me decepcionando pelo encerramento abrupto. Eu sei, isso é Não vou mentir, Confissões de uma máscara de Mishima é de fato um grande livro, mas acabou me decepcionando pelo encerramento abrupto. Eu sei, isso é um dos motivos que fazem dele um grande livro, esse detalhamento do despertar da sexualidade homossexual e a confusão de amar não sexualmente uma mulher (comumente conhecida como amizade) e a aceitação do seu desejo sexual por homens se deu de uma forma sutil e não propriamente da consumação do desejo como esperei pelo livro inteiro. É brilhante, mas de certa forma frustrante também. E impressiona o fato de tê-lo publicado aos 24 anos tão pleno da linguagem e de si mesmo, de grande maturidade, uma obra deveras impressiva em diversos âmbitos. ...more
